Como estar por dentro sem estar dentro? Ou como estar dentro e ficar por dentro?

 

Se seu amigo lhe fizer uma dessas perguntas, ou as duas, saiba que ele está querendo lhe complicar. Fuja. Depois de tecida, a rede praticamente elimina a possibilidade de você encontrar o verdadeiro fio da meada. É por isso que muitos dos que estão fora jamais conseguirão ficar por dentro. E muitos dos que estão dentro também.

Não bastasse a complexidade da vida em sua combinação espírito-corpo, há ainda a complexidade da mente humana na sua relação sócio comunicativa. Que pode ser afetiva ou simplesmente não. Uma complexidade complexa. E por isso terrível.

Estando fora, podemos ficar por dentro em parte, e isso com muita argúcia e um pouco de esperteza. A trama da rede lhe oferece ene possibilidades e muitos caminhos falsos. Por isso é rede e para isso é tecida.

Se lhe interessa desvendar a rede, qualquer rede, cuida de não se iludir com os balões de ensaio e as falsas indicações. Os balões e as indicações costumam ser preparados ao mesmo tempo em que se tece a rede. Na verdade, fazem parte da rede.

A comunicação é uma rede que está na rede e a tecnologia é um aparato da rede que não pode ser analisado ou compreendido fora da rede. O senso comum toma a mídia como sinônimo de tecnologia, o que nem sempre é de bom senso. Não há tecnologia sem rede nem rede sem tecnologia. Desde sempre.

O ser humano é o tecelão da rede, mas também sujeito dela. Está nela enquanto a tece, sem ocupar um lugar fixo visto que se movimenta como um aracnídeo em seu vai e vem constante. Isso explica sua onipresença parcial e sua profunda incapacidade de sempre estar por dentro, embora esteja dentro.

Escutar é do ato comunicativo dialógico praticado na rede, contudo tomou-se providências para regular a escuta. Ela ou é legal ou não. A regulação não é da natureza da rede, mas do seu ocupante e do desejo abissal que o ser tem de dominá-la.

Eis então duas ilusões simultâneas: a possibilidade do domínio da rede é uma, a outra é controlar as escutas. Em qualquer nível ou ponto da rede. A razão disso está nas vozes que circulam na rede.

A voz e a escuta são assim os dois fundamentos da comunicação e explicam porque o controle de uma e outra o tempo todo é absolutamente impossível. Como parar as vozes sem violência? E como manter a violência sem as vozes? Pois se há voz há escuta implícita na relação comunicativa. Se legal ou ilegal é pouco significativo para um ato, o comunicativo, que está na base de tessitura da rede.

Sem comunicação impossível tecer a rede. Onde ela para, a rede se rompe ou estanca. A trama prossegue sempre sob o comando comunicativo, na direção que este lhe imprime. Assim, muitas vozes, muitas escutas, direções diversas.

Se tomarmos um ponto demarcado da rede, significativo em termos de universo de observação, ainda assim veremos uma situação caótica pela complexidade comunicativa. Estamos dentro sem necessariamente estarmos por dentro, ou seja, sabemos pouco ou nada de muito, mesmo que pouco e muito sejam termos indefiníveis.

Por outro lado, para nos apropriarmos da rede precisamos dar visibilidade a ela. O que só pode ocorrer pelo simbolismo. Mas isso é conversa para outra ocasião.

Importa destacar o fato de o ser estar presente na rede como seu autor ao mesmo tempo em que a compreensão disso o desafia e solicita esforço enorme para estar por dentro, situando-se próximo ou distante dos pontos da rede onde os acontecimentos ocorrem.

Em suma, necessita do saber para um agir consciente mínimo. E para além de qualquer ilusão.

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