O que faria você?

 

CRÔNICA DA PEDRA

A pedra de Drummond foi posta no caminho e nunca mais de lá saiu. A pedra permanece, no tempo parece que cresce, como aquela outra que anda sobre um lago seco.

A pedra tem amigos, muitos! E ganha novos, diariamente, quando deveria perder, apenas perder.

A pedra tem braços, é ágil, e sua imobilidade está restrita apenas ao fato de ser pedra. Ela se alimenta, insaciável.

A pedra ouve através de mil orelhas de pouco cérebro e muita astúcia. Ela sabe de tudo o que se passa no poder, como forma de se alimentar à custa dos conchavos, somas e divisões, um modo antigo de dominação.

A pedra é grande o suficiente para fazer tropeçar todo aquele que pretende chegar ao cume da montanha a qualquer preço. E os toma por aliados e os enlaça com suas mil pernas de quilópode.

A pedra é pesada o suficiente para que não seja arrastada facilmente. Mas é também sutil em sua metamorfose, de modo a parecer uma rosa de bem-querer, perfumada e sem espinhos.

A pedra é vidente, cartomante, quiromante. Antecipa-se e prevê o futuro de novos e antigos aspirantes do poder. E ameaça de morte a todo aquele que pretenda passar ao largo de sua presença.

A pedra é capciosa nos contatos e contratos. A parvos, medrosos, interesseiros e astutos oferece sua ajuda intermediadora inevitável.

A pedra é do caminho, está no caminho e não há caminho sem a pedra. Ali, onde ela se posta, a serpente das fraquezas humanas se deita embaixo, vigilante.

Antes da pedra os sonhos, os planos, as promessas a cem por cento. Após a pedra o rescaldo e os escombros a quase sem por cento.

Porta a fora de todos os planaltos onde o poder se concentra há um vazio moral: é ali onde a pedra está posta. Ao fim do caminho mil olhos e braços e sonhos e bocas protestam, às vezes insistentes, às vezes cansadamente.

E agora, Drummond, o que faria você?

Romperia o silêncio da inação, apesar da pedra, ou quedaria, sem forças, por causa da pedra?

Não se esqueça, caro amigo: antes de decidir, lembre-se de que o tempo em sua irrefreável duração encara a vida e a morte enquanto passa. O mendigo do planalto de Herculano continua com seu chapéu à espera das moedas sonoras que as mulheres atiravam-lhe maternalmente.

Os espíritos falam. Você ouve?, novo livro de Wilson Garcia

Texto: Voice Comunicação Institucional (Voice Social)

AUTOR DE MAIS DE 30 LIVROS, JORNALISTA WILSON GARCIA PARTICIPA DE  ENCERRAMENTO DAS COMEMORAÇÕES DE 100 ANOS DE HERCULANO PIRES, FAZ PALESTRAS E LANÇA “OS ESPÍRITOS FALAM. VOCÊ OUVE?”  EM PROGRAMA NA CAPITAL E POR TRÊS CIDADES DO INTERIOR DE CapaSÃO PAULO

O jornalista e escritor Wilson Garcia, autor de mais de 30 obras espíritas, residente em Recife, chega a São Paulo na 6ª. feira, dia 19 de setembro, para um programa de entrevistas, palestras e lançamentos de livros na Capital e Interior –  em Capivari, Indaiatuba e Piracicaba.

Encerramento das Comemorações de 100 anos de Herculano Pires em SP

A agenda de Garcia, reconhecido nacionalmente por suas obras e palestras de temáticas espíritas, começa no sábado com o Simpósio de encerramento das Comemorações dos 100 anos de Herculano Pires. Wilson é um dos principais divulgadores do pensamento de Herculano Pires, considerado o mais importante tradutor, para o português, da obra de Allan Kardec, o codificador do Espiritismo. Pires foi presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo e faleceu em 1979, aos 64 anos, deixando uma extensa obra inédita que foi paulatinamente publicada por sua mulher Virgínia, administradora de seu legado até sua morte. Wilson participou da intensa programação das comemorações que durou um ano – a Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires, responsável pela preservação da memória do casal, criada e mantida pelos filhos, e que detém todos os direitos de sua obra, coordenou todo o Ano do Centenário de Herculano Pires – iniciado em setembro passado e que contou, neste período com a realização de 25 encontros quinzenais em que, a cada edição, um estudioso de sua obra apresentava palestra sobre seus livros nas diversas categorias de seu trabalho – literário, jornalístico, filosófico, poético e doutrinário.  Wilson abordou durante as comemorações o tema “O Vampirismo em Herculano Pires” e agora retorna no simpósio para encerrar o programa sobre Herculano Pires, o Jornalista.

Todas as palestras do Centenário de J. Herculano Pires podem ser conferidas e assistidas no site da Fundação: http://www.herculanopires100anos.com.br/encontros

Entrevista na Rede Boa Nova

Na 2ª. feira, dia 22, Wilson Garcia, grava entrevista pela manhã, na Rede Boa Nova, emissora caracterizada pela programação espírita e que é mantida pelas Casas André Luiz. O programa vai ao ar na quarta-feira, às 11h00 da manhã e pode ser acompanhado pela Rádio Boa Nova, AM 1450 Kz, Guarulhos, e pela TV Mundo Maior, via parabólica pelo satélite Star One C2, com sinal digital, ou pela internet: http://tvmundomaior.com.br/

Pré-lançamentos de “Os Espíritos Falam. Você Ouve?”

marcam agenda do Interior

Após a entrevista, Wilson inicia sua programação non Interior de São Paulo viaja para Capivari, onde, no mesmo dia, às 20 horas realiza palestra no C.E. Mensagem de Esperança, Av. Brigadeiro Faria Lima, 1080, Capivari. Na ocasião, Garcia faz agenda de pré lançamento do seu novo livro “Os Espíritos Falam. Você Ouve?”, pela Editora EME.

No dia seguinte, 3ª.feira, 23, às 20h, o mesmo programa – palestra + pré-lançamento – será em Indaiatuba, no C.E. Padre Zabeu Kaufman, Rua 13 de Maio, 1054, Indaiatuba. E na 4ª. feira, 24, 20 horas, o programa termina na União Espírita de Piracicaba, Rua Regente Feijó, 933, Piracicaba.

O lançamento nacional do novo livro de Wilson Garcia, no circuito comercial de livrarias, acontece ainda em setembro e começa por Recife, passando por São Paulo. Depois o autor segue para roadshow pelo País que já tem, entre outras agendas, confirmação de lançamento em  Recife, na capital pernambucana, onde o autor fará uma agenda de simpósios e palestras sobre o conteúdo da nova obra.

“Com agenda fechada de simpósio e palestras em São Paulo e Interior, antes do lançamento no circuito de livrarias não espíritas, decidimos, aproveitar a visita a estas cidades e apresentar a nova obra para o público espírita que sempre nos acompanha”, disse Garcia explicando o programa de pré-lançamentos. E acrescenta: “o primeiro pré-lançamento ocorreu em Porto Alegre, nos dias 5-7 de setembro, durante do VI Simpósio do Livre-Pensar, promovido pela CepaAmigos e realizado na sede do CCEPA, Centro de Cultura Espírita de Porto Alegre. A seguir, apresentamos o livro na cidade de Belo Jardim, interior de Pernambuco, no dia 14 de setembro, durante a apresentação que fizemos do seminário sobre Drogas e Espiritismo”.

Livro tem proposta ousada

Com 176 páginas e subtítulo “Uma proposta teórica para o processo de comunicação mediúnica”, o livro tem uma proposta ousada de abordagem do fenômeno mediúnico, promovendo um link entre as diversas teorias da comunicação social e a comunicação mediúnica, pela qual os entes invisíveis dialogam com os seres humanos. Garcia é formado em  jornalismo e é mestre em comunicação social pela Cásper Libero. No livro, as idéias e propostas de autores como Santaella, Joly, Aumont, Hall, DeFleur, Fidalgo e Bakhtin, teóricos da comunicação e de disciplinas afins, são confrontadas pelo autor com teses sobre comunicação presentes em textos fundadores do Espiritismo, produzidos por Allan Kardec. “Fizemos um esforço de interpretação e correlacionamento, com o objetivo de fundir os elementos teóricos das ciências da comunicação com o processo da comunicação mediúnica.”, explica Garcia.

Sobre o Autor

Wilson Garcia, 65 anos, é casado e pai de 4 filhos. Reside em Recife aonde, como professor de jronalismo e comunicação, após período dedicado às aulas na universidade, dedica-se exclusivamente a produção de obras espíritas. Garcia é autor de mais de 30 livros sobre os mais diversos aspectos do Espiritismo, desde a organização de centros espíritas e processos mediúnicos até estudos e reflexões sobre intelectuais da matéria. É um dos principais estudiosos de Herculano Pires, a quem admira desde os 16 anos de idade, quando leu pela primeira vez o livro “Barrabás, o enjeitado”. A convivência com as ideias de Herculano Pires aprofundou-se durante o período em que dirigiu jornais e editoras espíritas, já domiciliado na capital paulista. Sobre Pires escreveu o livro “Kardec é Razão”, que está com a segunda edição, totalmente revista e atualizada, à venda pela Editora EME, Editora USE (São Paulo) e Editora Paideia.

Lançamento em Recife começa no dia 28 de setembro

Ainda em regime de pré-lançamento, o livro “Os espíritos falam. Você ouve?” será apresentado aos participantes do seminário, que tem o mesmo título do livro, a realizar-se no próximo dia 28 de setembro, a partir das 9 horas da manhã, na Fraternidade Espírita Francisco Peixoto Lins (Peixotinho), rua Sansão Ribeiro, 59, em Boa Viagem, com entrada franca.

Além do lançamento oficial em Recife e São Paulo, em fase de agendamento, já estão programados eventos em João Pessoa, Paraíba, e São Luís, Maranhã para o mesmo fim.

PROJETO VAGA-LUME: Belo Jardim e outras três cidades estão no roteiro de setembro 2014

O Projeto Vaga-lume, que se propõe a dialogar com os centros espíritas do interior do Estado de Pernambuco, tem na sua coordenação o dinâmico amigo Francisco de Assis, figura simpática e admirada no movimento espírita pernambucano e fora dele.

A cada dois meses, os membros do projeto se reúnem para atender às solicitações que chegam do interior pernambucano e, agora também, com experiências bem sucedidas pelo interior da Paraíba.

Nos dias 13 e 14 de setembro em curso, o projeto visitará as cidades de Belo Jardim, Lajedo, São Bento do Una e Tacaimbó. Em geral, os temas são decididos pelos próprios dirigentes interioranos, de acordo com suas necessidades.

A programação acontece com palestras nas noites de sábado, nas cidades participantes, e encerra-se no domingo, na cidade polo, que, no presente programa, é Belo Jardim, com um seminário do qual participam representantes de todos as demais cidades, num clima de sensível fraternidade.

A base do projeto é o contato e o diálogo, para aprofundar a consciência em torno dos princípios e práticas espíritas, com intensa troca de experiências como forma de enriquecer a todos os envolvidos, sejam os membros do projeto, sejam os dirigentes e colaboradores dos centros espíritas, bem como o público participante.

Veja a programação completa:

PROJETO VAGALUME 2 (1)

Comemorações do centenário terminam em setembro

 

Evento programado para o dia 20 de setembro de 2014, em São Paulo, marcará o momento maior das comemorações do centenário de nascimento de J. Herculano Pires, filósofo, poeta, jornalista, escritor e professor, considerado uma das maiores inteligências espíritas do Brasil.

Com mais de 80 livros publicados e, ainda, inúmeros trabalhos em fase de catalogação e edição, constantes do acervo deixado pelo professor, hoje sob a responsabilidade da Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires, o homenageado será apresentado com um programa constituído de duas partes: na primeira, um simpósio reunirá em mesa-redonda: Marco Milani, Wilson Garcia e Paulo Henrique Figueiredo, que vão expor sobre o filósofo, o jornalista e o homem da doutrina espírita.

No segundo momento, será projetado um documentário inédito, produzido pelo cineasta Edson Audi especialmente para o centenário de J. Herculano Pires, traçando as principais realizações do homem e pensador, bem como a sua profunda ligação com a doutrina que Allan Kardec legou à humanidade há pouco mais de 150 anos.

A Rede Boa Nova promete transmitir o evento, que terá, também, transmissão pela Web, podendo ser assitido ao vivo. A entrada é franca e os participantes poderão adquirir livros do professor, no estande montado pela Editora Paidéia.

Trailer está disponível

Já está disponível na Web o trailer do documentário sobre J. Herculano Pires, com a direção de Edson Audi e o apoio da Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires. Assista aqui:

http://youtu.be/G7cQ3hwAp7Y

SIMPÓSIO HERCULANO PIRES 100 ANOS _ CONVITE

Crônica para Eduardo

 

(Texto feito especialmente para o programa Realidade Paralela deste sábado, 16 de agosto de 2014, na Rádio Folha FM 96,7, Recife, PE)

 

Quando soaram as 12 horas e 51 minutos, eu me perguntei se Miguel Arraes, o avô, estava informado do retorno de seu neto.

E me perguntei mais:

Se Eduardo havia passado pelo túnel da morte com coragem e esperança?

Se seus mais próximos do outro lado estavam com os braços abertos para confortá-lo?

Se ele pudera perceber que o seu corpo espiritual continuava intacto?

Se havia luzes a clarear o espaço em que fora arremetido na beleza da vida?

Se os Espíritos sonhadores de um mundo melhor lhe enviavam mensagens de otimismo?

Se os políticos que o antecederam, já refeitos de seus próprios destinos, tinham palavras fraternas para adorná-lo?

Se seus sentimentos nobres eram suficientes para suportar a abrupta separação?

Se um sono, profundo e reparador, o acolhera no leito da nova etapa?

Se o momento, em toda sua solenidade, percebia o sopro da brisa fresca predizendo calmaria?

Se olhares silenciosos estendiam-lhe proteção contra quaisquer desassossegos?

Se uma sonata de Chopin ecoava pelos ares em acordes tranquilos?

Se, em meio aos prantos daqui, havia lá a presença compassiva e estável dos bons?

E, finalmente,

Se eu poderia, deveria, ousaria ou desejava adormecer em paz, naquele momento de grande estranhamento da população brasileira?

Foram perguntas, apenas perguntas.

Nenhuma delas pedia, procurava ou buscava respostas. Foi somente o meu jeito de dizer, de mim e para mim, que a vida prossegue, que a alma é imortal, que os sonhos não morrem.

Sim, por mais que os solavancos da existência nos balancem e sacudam, há sempre uma certeza de esperança e uma esperança de continuidade, a soar dentro de nós como uma suave e meiga voz garantindo a estabilidade dos seres na procura permanente pelo bem e o belo.

Descanse, Eduardo, pois mais um frutuoso trabalho o espera, ali, logo à frente. E, por favor, não desista, jamais, de você mesmo.

Despedida

A vida, feita de ciclos sucessivos, conduz-nos, inevitavelmente, a mudanças.
Neste momento, estou encerrando meu ciclo de professor de Teoria da Imagem na Faculdade Maurício de Nassau, Recife, PE, depois de 9 anos completos de atividades naquela instituição de ensino superior privada.
Resolvi assumir, em definitivo, minha condição de aposentado, para a qual já vinha me preparando há algum tempo. Quando cheguei em Recife, para residir, incorporei-me à instituição, que, então, se iniciava, com cursos na área de comunicação social e de direito. Foram momentos extremamente férteis, na companhia do então coordenador José Mário Austragésilo, quando tudo estava por ser construído e o ideal da educação podia ser levado à frente como principal bandeira dos corações dispostos a participar do aprendizado das novas gerações que se formavam.
A Faculdade Mauricio de Nassau cresceu, vertigionasamente, e transformou-se no Grupo Ser Educacional, presente hoje em todos os Estados do Norte-Nordeste brasileiro. Inevitavelmente, a visão do negócio enquanto tal, se já não estava latente nos primeiros tempos, passou a status dominante, reduzindo drasticamente o ideal da educação. Para os profissionais da educação, que entregam suas vidas à carreira e dela dependem para sua sobreviência, resta guardar no âmago todos os sonhos, para não perder o impulso que garante a convicção e gera as ações que dão brilho à dignidade humana. Os jovens e seu preparo ainda justificam os melhores esforços dos que se prepararam para lhes oferecer o braço, o cérebro e o carinho do dia a dia, apesar de todas as dificuldades que se lhes são impostas no exercício da sua profissão, grande parte delas por conta dos resultados financeiros que o negócio deve gerar, como meta suprema.
A partir de agora, estou voltando minha atenção para outros projetos, todos, sem dúvida, ladeando o ideal da educação, alguns que já estavam em andamento e outros que surgem desses momentos surpreendentes e inexplicáveis, como um aceno de possibilidades a serem concretizadas.
Ao concluir esse meu ciclo e não podendo estar com todos os meus colegas, pessoalmente, venho deixar-lhes o meu abraço de reconhecimento pelo convívio, apoio e amizade, bem como dizer-lhes que continuarei a ser o amigo, sempre disponível, aquele que, mesmo distante do dia a dia, permanece com a certeza de que é possível construir um mundo justo e igualitário para todos, mundo esse em que a educação se coloca como o principal marco ou viga mestra.
Como risonhamente gostava de dizer um grande amigo: até de repente!
Com fraternidade e atenção.
Wilson Garcia
Julho de 2014

A interpretação que excede a lógica

 

A propósito da publicação no “Opinião” de abril/2014, da CCEPA, mas, também, daContextualizar é preciso corte ideia que a matéria representa, cabe um reparo amparado na lógica da doutrina que Kardec organizou e produziu, denominada Espiritismo.

A matéria diz respeito aos 150 anos de lançamento de O Evangelho segundo o Espiritismo, tão amplamente comemorados neste Brasil de nosso tempo, mas pouco, muito pouco mesmo analisada fora desse lugar comum que é o campo da religião, visto que sua lógica está para além do mero consolo e da simples aplicação da moral cotidiana.

A matéria do “Opinião” – Contextualizar é preciso – padece de um equívoco argumentativo, uma vez que deduz houvesse Kardec sido filho de uma outra cultura que não a cristã, ao seu tempo, teria escrito livro diferente para o aspecto religioso do Espiritismo. Esquece-se, contudo, da visão de conjunto necessária para compreender a posição de O Evangelho segundo o Espiritismo na doutrina de Kardec.

Talvez, ninguém melhor do que Herculano Pires tenha tido essa visão e deduzido dela a lógica do livro mencionado, lógica essa que o insere num contexto de uniformidade de vistas, de forma a constituir não apenas uma parte do conjunto, mas parte que não pode ser excluída porque deforma o todo e parte que não possui finalidade em si mesma, pois existe por conta do conjunto.

O argumento de que em outra cultura o livro seria outro exige do raciocínio um complemento: em outra cultura os Espíritos-autores seriam outros, logo as ideias também. Então, a dúvida: aquilo que é universal na doutrina seria defendido ou colocado por estes outros emissores? Os princípios fundamentais, como imortalidade, reencarnação, comunicabilidade dos espíritos, evolução, as leis naturais seriam todos integrantes elementares da obra? Haveria espaço em outras culturas para os princípios e a lógica que os une?

A questão não pode ser resumida a uma vontade de Kardec decorrente de sua submissão relativa à cultura na qual estava inserido. É o que reza Herculano Pires. A vontade de Kardec decorre do conjunto das ideias que o levou a optar por escrever um livro como sequência natural da obra iniciada em O Livro dos Espíritos e desenvolvida em O Livro dos Médiuns.

Herculano vai além: vê toda a Doutrina Espírita como sequência do conhecimento construído pela humanidade, através das civilizações. E a toma como um conjunto harmônico em que as partes se enlaçam de forma precisa, cada uma delas assumindo uma parcela da obra e a desenvolvendo, sem que haja qualquer tipo de choque com aquela que aparece na base do edifício: O Livro dos Espíritos.

Se os espíritas fizeram de O Evangelho segundo o Espiritismo o livro de maior destaque e lhe aplicaram uma importância que minimiza absurdamente o valor de O Livro dos Espíritos, numa ação irremediavelmente incoerente; e se O Evangelho segundo o Espiritismo tornou-se referência de um religiosismo exacerbado, como se o Espiritismo se resumisse a isso é uma questão para ser discutida. Outra, diferente, é ver o terceiro livro de Kardec como resultado apenas de uma situação cultural do autor, o que nos lança a um reducionismo obtuso.

Dizer que O Livro dos Espíritos é a fonte dos demais livros de Kardec é repetir o lugar-comum. Mas enfatizar que ele é o gerador dos demais para indicar que forma com eles um conjunto e que neste conjunto, independentemente de qualquer outra coisa, impera a lógica e a coerência interna é uma necessidade.

Diz o bom senso que o conjunto em referência não se refere apenas aos livros e às ideias que defendem, mas inclui, também, os autores (invisíveis e visíveis), o contexto, o tempo e o espaço dos acontecimentos. E, evidentemente, um olhar epistemológico. Qualquer conjectura, por mais legítima que seja, feita com o objetivo de apontar outras possibilidades, como essa levantada pelo “Opinião”, deveria, portanto, levar em consideração o conjunto e não uma obra isolada.

Dentro deste raciocínio, a figura de Jesus, as ligações com o cristianismo e outros aspectos desse mesmo tema não são iniciativas isoladas de O Evangelho segundo o Espiritismo, pois que estão amparadas na obra básica – O Livro dos Espíritos. Não é possível, pois, questionar aquele sem reconhecer a primazia deste e sem atingi-lo, da mesma forma que não é coerente desconsiderar os laços que unem as partes fundamentais da doutrina, como a comunicabilidade dos espíritos, as leis da reencarnação e da evolução, entre outras, laços que, eventualmente desfeitos, isolariam as partes e as lançariam à orfandade.

Em suma, a perspectiva de um outro livro implica um outro conjunto de ideias. Fora disso, não é possível refletir.

O Vampirismo em J. Herculano Pires

Capa Vampirismo

Herculano Pires* surpreende ao abordar um tema que, aparentemente e até mesmo por seu título, parece nascido das profundezas do imaginário humano e sustentado nas lendas e nas fantasias do passado. Afinal, vampiros famosos se tornaram atores de histórias extraordinárias ao longo do tempo e são até hoje venerados e idolatrados por um número sem conta de fãs, dramaturgos e cineastas.

Em torno dos vampiros são produzidos e consumidos milhares de produtos culturais, gerando resultados econômicos, financeiros e, sem dúvida, psicológicos de consequências consideráveis.

Mas o que deseja Herculano com o seu livro “Vampirismo”? A resposta a essa pergunta, evidentemente, não dispensa a leitura do livro referido mas, também, não depende apenas dessa leitura. Com efeito, conhecer o pensamento de Herculano, no livro e fora dele, se torna indispensável à compreensão de sua intenção e da estética utilizada pelo autor. Dois exemplos ilustram bem essa afirmação: eu as tomo, paradoxalmente, de dois aficionados do autor e as utilizo aqui como elementos de reflexão e não como elementos de uma crítica em si aos referidos herculanistas.

Num cartaz utilizado pelo advogado Marcelo Henrique para anunciar a sua palestra sobre o livro “Vampirismo”, aparece, como ilustração, a imagem de um vampiro tradicional, com seu rosto misto de homem e animal, dois caninos destacados e a boca com as marcas do sangue de suas vítimas, entre outros detalhes.

O segundo exemplo encontro-o no também herculanista Sérgio Aleixo. Em palestra que circula nas redes sociais, questiona ele a Herculano sobre a razão do livro e coloca dúvidas fortes sobre sua relação com a obra kardequiana. Crítico da infidelidade doutrinária, Aleixo reconhece em Herculano uma autoridade indiscutível, mas se permite discordar do livro “Vampirismo”.

Ora pois, a pergunta que surge oportuna é: Herculano atende com essa sua obra ao Marcelo Henrique e a Sérgio Aleixo, dando-lhes razão, ao primeiro na aplicação da imagem ao cartaz, e ao segundo em sua crítica às razões do livro? Se quisermos ser pragmáticos e responder com base na literalidade, diremos não. Se quisermos responder tomando por sustentação o pensamento de Herculano e sua intenção, também diremos não. Basta ver o que diz Herculano logo no começo do seu texto: “A era dos vampiros fantasiosos já passou há muito, mas a do Vampiro, nascida nos fins do século passado com as descobertas científicas […] apenas se esboça nos nossos dias”[1].

Justifiquemos. Vivemos a época da profusão das imagens e naturalmente enfrentamos o emprego criterioso delas por uns e o abuso por outros. Tanto o uso criterioso quanto o abusivo podem ser feitos intencionalmente ou por consequência de um automatismo adquirido socialmente e, no caso do uso abusivo, o automatismo carrega em si o desconhecimento da importância e das consequências das mensagens emitidas por meio das imagens ou com o auxílio delas. Com Aumont aprendemos que não há olhar fortuito e com Freud sabemos que o receptor é um sujeito desejante. Essas duas condições da personalidade encarnada são, por si só, suficientes para explicar que o sujeito que emite uma mensagem deve considerar com atenção a estética da mensagem e a estética da recepção, a fim de que haja, no caso em análise, coerência e coesão do texto com a imagem. O uso da imagem do vampiro para indicar o livro de Herculano Pires deixa de lado as duas condições: não é coerente nem está em situação de coesão com o texto. Isso ficará explicito ao longo deste estudo.

Então, o que pretende Herculano Pires quando aborda o vampirismo? A resposta a esta questão é a resposta também ao questionamento de Sérgio Aleixo e exige um olhar sobre o livro e sobre a forma que o autor utiliza para dar clareza aos conteúdos que desenvolve aqui e alhures.

O MUNDO DOS VAMPIROS

Uma rápida olhada na Wikipédia nos conduz ao seguinte conceito: “Vampiro é um ser mitológico ou folclórico que sobrevive se alimentando da essência vital de criaturas vivas (geralmente sob a forma de sangue), independentemente de ser um morto-vivo ou uma pessoa viva.

Embora entidades vampíricas tenham sido registradas em várias culturas, possivelmente em tempos tão recuados quanto a pré-história, o termo vampiro apenas se tornou popular no início do século XIX, após um influxo de superstições vampíricas na Europa Ocidental, vindas de áreas onde lendas sobre vampiros eram frequentes, como os Balcãs e a Europa Oriental, embora variantes locais sejam também conhecidas por outras designações, como vrykolakas na Grécia e strigoi na Romênia. Este aumento das superstições vampíricas na Europa levou a uma histeria coletiva, resultando em alguns casos na perfuração de cadáveres com estacas e acusações de vampirismo”[2].

PARASITAS

O mesmo se pode dizer dos parasitas que Herculano Pires correlacionou à figura do Vampiro. Indo à mesma fonte, encontramos: “são organismos que vivem em associação com outros dos quais retiram os meios para a sua sobrevivência, normalmente prejudicando o organismo hospedeiro, um processo conhecido por parasitismo. Todas as doenças infecciosas e as infestações dos animais e das plantas são causadas por seres considerados parasitas.

O efeito de um parasita no hospedeiro pode ser mínimo, sem lhe afetar as funções vitais, como é o caso dos piolhos, até poder causar a sua morte, como é o caso de muitos vírus e bactérias patogênicas. Neste caso extremo, o parasita normalmente morre com o seu hospedeiro, mas em muitos casos, o parasita pode ter-se reproduzido e disseminado os seus descendentes, que podem ter infestado outros hospedeiros, perpetuando assim a espécie, como no caso do Plasmodium.

Algumas espécies são parasitas apenas durante uma fase do seu ciclo de vida: o cuco, por exemplo, é parasita de outra ave apenas na fase de ovo e juvenil, enquanto que os adultos têm vida independente”[3].

Vamos agora ao pensamento de Herculano Pires no livro em foco.

O OLHAR DO PROFESSOR

A primeira questão que sobressaí ao olhar questionador é o fato de Herculano utilizar, em grande parte de sua obra escrita a forma mais próxima da ficção, da literatura strito sensu. Não estamos dizendo com isso que o vampiro de Herculano seja uma criação de sua mente, um personagem fictício. Longe disso. Ocorre que a forma como apresenta o tema utiliza-se de uma estrutura textual segundo a qual o melhor vem no fim, ou seja, se há enigmas estes não são totalmente resolvidos senão nos estertores do estudo. Essa é uma característica do escritor Herculano Pires, digamos assim, uma de suas marcas mais fortes e que precisa ser levada em consideração quando se pretende conhecer o seu pensamento. Sim, Herculano fez jornalismo e dos bons, mas seu texto jornalístico não tinha a ingenuidade do lead nem se fixava em apontar as respostas às cinco perguntas básicas a que todo jornalista se submete quando relata um acontecimento. O jornalismo de Herculano era mais próximo da literatura que do próprio jornalismo, como ocorre com os grandes profissionais da imprensa.

Outra marca piresniana, tão importante quanto, é o que podemos denominar de visão sistêmica. Não vamos encontrar Herculano, jamais, fora daquela visão integradora, segundo a qual as partes só fazem sentido se estiverem interligadas entre si e ao todo de forma lógica. Um estudo mais detido mostra este autor totalmente voltado a um tipo de consciência em que os sentidos só se fazem compreensíveis quando a unidade é alcançada em sua construção verdadeira e, a partir dela, a inerente diversidade. Vamos encontrar Herculano sempre, em diversos momentos, se referindo a isso, à necessidade de alcançar essa visão, e quando fala de Kardec no sentido doutrinário outra coisa não reclama dos estudiosos senão o esforço para compreender o conjunto harmônico da obra espirita. Parece mesmo que essa condição especial de Herculano era tão presente nele que se manifestava de modo espontâneo, quase digo natural.

Outro aspecto a não perder de vista, também presente e que contribuía grandemente para que Herculano pudesse produzir obra tão vasta, quantitativa e qualitativamente, era sua capacidade dialogar com o conhecimento de sua época, sem deixar de, de alguma maneira, trabalhar o futuro ou projetá-lo idealmente. Neste particular, não podemos deixar de considerar em Herculano a presença de uma memória prodigiosa, de uma capacidade de organização das ideias inequívoca e, aqui me arrisco sem temor, de uma ação interexistencial, no sentido mesmo proposto por ele, pela qual dialogava com as inteligências invisíveis, não ostensivamente, mas pela linguagem do pensamento.

Posto isso, podemos entrar no livro “Vampirismo” e nele buscar as respostas que solucionem as questões levantadas. Mas devemos considerar que “Vampirismo” é um livro que amplia o tema iniciado em seu outro livro, de título “Mediunidade”.

Num primeiro momento, nós vamos descobrir que Herculano Pires relaciona, ao longo de seu livro razoavelmente breve, os seguintes aspectos que são por ele abordados, tendo por tema central o anotado no título: “Vampirismo”

  1. Aspectos históricos
  2. Provas científicas
  3. Vampirismo espiritual
  4. Parasitismo versus Vampirismo
  5. Conceitos diversos
  6. Interdependência
  7. Exemplos sugestivos
  8. Tratamento
  9. Natureza do vampiro espiritual
  10. Vampirismo entre os Espíritos
  11. Vampirismo mental
  12. Doutrinação
  13. Ação indutiva
  14. Finalidade da vida
  15. Escravização mútua
  16. Autovampirismo
  17. Educação e cultura
  18. Vampirismo telúrico
  19. Consciência
  20. Vampirismo cósmico

AS IDÉIAS DO AUTOR

Começamos com uma pergunta: de que Vampiro ou Vampirismo trata Herculano Pires? A resposta é dada por ele mesmo: “O vampirismo propriamente dito é uma relação negativa, baseada em interesses inferiores de parte a parte”[4]. Tal definição está registrada em algum momento intermediário do seu livro, ou seja, não resulta de uma preocupação sistemática de começar definindo e menos ainda de fazer da definição o conceito único.

Já por essa definição, Herculano destaca duas coisas: o vampirismo é em si mesmo um fator negativo, com resultados ruins para os indivíduos participantes dessa relação; e se estabelece a partir de interesses mútuos dos personagens envolvidos: o vampiro e o vampirizado. Já, então, percebe-se que se trata do prolongamento de um processo obsessivo, em que um dos lados é o interessado em obsidiar e o outro é vítima. Ou seja, a obsessão pode desdobrar-se para além dos tipos estabelecidos – obsessão simples, fascinação, subjugação e possessão – num processo em que um se torna o vampiro do outro, sugando-lhe as energias.

Herculano expõe um assunto grave. Detido ao contexto cultural de sua época, pensa, no entanto, como alguém que não se deixa levar apenas pela visão do seu tempo. Usa as pesquisas de sua época e das épocas anteriores como suporte para as afirmações que faz, como esta: “A prova científica da existência da telepatia, da clarividência, da precognição, da sobrevivência da mente após a morte corporal […] não deixam dúvidas quanto à realidade da ação de entidades psicofísicas sobre as criaturas humanas”[5].

Este ponto está pacificado em Herculano. Os Espíritos existem e falam telepaticamente com os humanos. Não é difícil compreender isso a partir da aceitação de que a alma sobrevive ao corpo, possui sua individualidade e continua a relacionar-se com os demais Espíritos e com os encarnados na Terra.

A convicção serve para outras reflexões e Herculano precisa ir adiante, resistindo às oposições que sabe existirem entre os homens, alimentadas principalmente pelos céticos. Em reforço de sua convicção, afirma: “Não há mais dúvidas possíveis no tocante à existência de relações constantes e naturais, de ordem telepática, entre os dois planos interpenetrados da vida humana: o dos homens e o dos espíritos”[6].

Convicto da realidade que certamente ele mesmo experimentava cotidianamente, aponta: “Sendo os espíritos nada mais que os homens desencarnados é fácil compreender-se que as relações possíveis entre homens e espíritos, no campo afetivo e mental, permitem as ligações de espíritos viciados com homens de tendências viciosas”[7].

Se sonhamos com relações afetivas com Espíritos Superiores, Herculano chama a atenção para esta outra realidade, a dos Espíritos viciados que encontram terreno favorável nos encarnados de tendências viciosas, base para o vampirismo e para o parasitismo. E observa, como educador, que essas relações podem ser vistas em seus desdobramentos afetivos e mentais, ou seja, podem ocorrer tanto pelas vias do sentimento quanto pelas do intelecto.

Aliás, Herculano vai caracterizar o vampirismo mental como o mais danoso ao sujeito vampirizado, como se observa nesta passagem: “O vampirismo mais perigoso é o que se passa no plano das ideias. A ligação mental se estabelece de maneira imperceptível[8]. Não apenas a pessoa não percebe o envolvimento como não concebe a origem dos seus pensamentos e os toma como seus, numa ação que aprofunda a simbiose. Percebe-se, assim, a proximidade entre o processo obsessivo da fascinação e o vampirismo, sendo que este – o vampirismo – mostra o espirito sorvendo as energias da vítima e passando ambos a uma certa interdependência.

Em reforço a essa afirmação vem o próprio Herculano: “No parasitismo, mesmo no espiritual, há uma tendência de acomodação do parasita na vítima. […] A entidade espiritual parasitária procura ajustar-se ao parasitado, na posição de uma subpersonalidade afim”[9].

Eis que Herculano aponta para o que ele chama de parasitismo espiritual: “[…] o vampirismo é apenas um fenômeno de simbiose, que tanto ocorre entre os encarnados, quanto entre os desencarnados”[10]. Ou seja, pode-se pensar em pelo menos três tipos de vampirismo: espirito-espirito, espirito-encarnado e autovampirismo.

Neste último caso, o do autovampirismo, a ideia de Herculano é de que “No autovampirismo a vítima de si mesma se come por dentro, devora e suga suas entranhas. […] É a própria vítima que atrai, então, os vampiros que passam a assedia-la”. Herculano está tão convicto deste campo de atuação, desta relação negativa, que coloca em termos enfáticos: “Se compreendermos que o vampirismo não é mais do que a exacerbação mórbida de tendências naturais do organismo, mantidas em equilíbrio e portanto em condições normais na vida rotineira, não estranharemos a expressão autovampirismo[11].

TRATAMENTO

Contudo, o tratamento está em relação de dependência com outros fatores, como bem assinala o professor: “É necessário lembrar sempre, nas doutrinações, que não estamos na Terra para gozar nem para sofrer, mas para enfrentar as necessidades da nossa evolução”[14]. O vampirismo, se não é retrocesso evolutivo, é, sem sombra de dúvidas, estagnação do processo, porque retém os sujeitos envolvidos estacionados no espaço e tempo.
Deve-se recordar que, segundo Herculano, “O parasitado sofre duplo desgaste de suas energias mentais e vitais e o parasita cai na sua dependência, perdendo a sua capacidade individual de sobrevivência e conservação[15].

Logo, as personalidades enlaçadas deixam de realizar conquistas para se manterem em estado quase mórbido, em situação de desgaste de energias que são necessárias para a atividade construtiva.

Os exemplos dados por Herculano são significativos: “Os casos de pessoas dependentes, excessivamente tímidas, desanimadas, inaptas para a vida normal, essas de que se diz “passaram pela vida mas não viveram” são tipicamente casos de parasitismo”[16].

Portanto, a solução para esta doença exige abordagens que envolvem a ação decisiva, também, dos parceiros, como se observa em Herculano: “A vontade, que é potencialidade instintiva, posta em ação pela mente, dispõe sempre de energias vitais para repelir as tentativas de infestação vampiresca[17]. Ou seja, em acordo com Kardec, Herculano reafirma que a vontade pode ser o anteparo às influencias que podem levar ao vampirismo mas, também, o elemento decisivo para a cura do relacionamento já instalado, seja quando a vítima não deseja mais continuar nesta relação, seja quando o próprio espirito vampirizador, em estado parasitário e de dependência, toma consciência da situação e resolve dar um basta nela. Não se pode esquecer, conforme assevera Herculano, que “O vampirismo é uma forma de escravização. Escravizamo-nos aos outros por preguiça, por indolência, e os outros se escravizam a nós pelos mesmos motivos”[18].

No centro da questão está o ser. A vontade é uma espécie de motor da ação que normalmente é acionado quando o indivíduo se mune de uma compreensão do seu próprio problema. Eis que Herculano chega a ela, quando afirma: ” A consciência é o centro dinâmico do ser, estruturado pela essência das experiências sofridas e vividas através da evolução criadora”[19].

O mestre, contudo, adverte: “Se não encararmos o parasitismo e o vampirismo em termos rigorosamente doutrinários, […] estaremos sujeitos a ser enganados por espíritos mistificadores que passarão a nos vampirizar”[20]. A advertência tem um endereço claro: espiritas e não espiritas, médiuns, dirigentes, divulgadores, escritores, etc. A relação interexistencial expõe a todos às mesmas situações, aos mesmos desafios, aos perigos e oportunidades.

Enfim, com o ser no centro de suas atenções, Herculano pergunta e ao mesmo tempo responde: “Qual será o nosso futuro comportamental? Há muitas hipóteses, mas ninguém pensa na possibilidade de nos comportarmos como espíritos, aqui mesmo na Terra, ajudando os vampiros a reconhecerem que também são espíritos”[21]. Cabe, então, perguntar: o que significa “comportarmos como espíritos”? Eis uma questão que cada um, per si, pode e deve responder…

E preciso finalizar mas não sem antes recorrer ao professor e sua visão de futuro: “Os graves problemas do vampirismo não serão resolvidos sem a ação corajosa dos espíritas em todos os campos da Cultura e da Educação”[22]. Ou seja, a preocupação com o vampirismo e o seu consequente, o parasitismo, não se relaciona apenas ao comportamento da individualidade humana. Trata-se de algo que diz respeito a Humanidade e a interexistencialidade da vida, inevitável e à qual todos estão submetidos na experiência evolutiva.



[1] Pág. 6.

[4] Pág. 33.

[5] Pág. 7.

[6] Pág. 10.

[7] Idem.

[8] Pág. 34.

[9] Pág. 13.

[10] Pág. 33.

[11] Pág. 74.

[12] Pág. 13.

[13] Pág. 15.

[14] Pág. 58.

[15] Pág. 13.

[16] Pág. 13.

[17] Pág. 101.

[18] Pág. 61.

[19] Pág. 100.

[20] Pág. 16.

[21] Pág. 40.

[22] Pág. 85.

* Palestra realizada em 12 de março de 2014, no Grupo Espírita Cairbar Schutel, dentro das comemorações do Centenário de J. Herculano Pires.

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