O peso dos fatos e o fato em si: leitores de Ponto Final reagem segundo suas convicções

“Muitos disseram: “prefiro não me meter em polêmicas” ou “não quero sair repetindo o que um autor falou só pq é a opinião dele” (mesmo tendo provas sobre isso) ou então “prefiro continuar sendo um espírita evangélico” mesmo sabendo que distorce o pensamento do mestre Kardec” (sic).

O parágrafo em destaque acima está no e-mail que recebi de um leitor do livro Ponto Final: o reencontro do espiritismo com Allan Kardec, e-mail datado de 17 de fevereiro de 2021 e se refere a opiniões que ouviu de pessoas suas amigas com quem conversou sobre o livro.

Fotos enviadas pelo leitor mostram o livro marcado com suas anotações.

Não é de todo surpreendente, pois o livro vem causando reações as mais diversas, muito embora parte dessas reações ocorram por conta da dificuldade do ser humano em lidar com os fatos, especialmente aqueles que podem causar a quebra de crenças e ilusões caras aos seus portadores. Tenho dois outros exemplos que vêm se somar aos que o leitor em referência alude. Vejamos.

Conhecido líder espírita de importante capital nordestina fez, recentemente, uma live para entrevistar um diretor da Federação Espírita Brasileira (FEB) e durante o encontro afirmou, entre indignado a afoito, que alguns espíritas andam “falando mal de Bezerra de Menezes e Chico Xavier”, questionando o entrevistado sobre o que achava disso. A afirmação veio na esteira de comentários que claramente aludiam ao livro “Ponto Final”, porém sem o mencionar diretamente.

Este caso é emblemático. Há leitores que se chocam com algumas afirmações factuais e prefeririam não ter de lidar com elas. A verdade é que os fatos pesam e para alguns pesam de modo intenso emocionalmente, levando-os a uma reação descontrolada a ponto de fazerem acusações generalizadas e injustas. A afirmação de que “andam falando mal de Bezerra de Menezes” surge como leviana, neste caso.

No livro “Ponto Final” demonstro que Bezerra de Menezes foi o introdutor de Roustaing na FEB, como também o responsável pelo projeto de tornar a doutrina deste, oposta à de Kardec, popularizada no Brasil. Longe de “falar mal”, utilizo-me de depoimentos documentados que reproduzem falas e textos do próprio punho de Bezerra, em publicações da FEB, para apontar os fatos. Isto não é “falar mal”; é pesquisa e, como se sabe popularmente, contra os fatos não há argumento.

Em uma live de poucos dias atrás, em que fiz exposição sucinta do conteúdo do livro “Ponto Final”, uma participante questionou-me se o que se conseguiu em termos de unificação no Brasil não teria sido o possível, aduzindo se não era o que o momento permitia. Coloquei a opinião em dúvida, perguntando se entender como o possível em matéria de consenso não seria uma forma de ajustar e explicar as coisas segundo as conveniências e os interesses dominantes. Por exemplo, se Kardec apresenta uma filosofia baseada na razão que ajuda a demolir as crenças dogmáticas e a destruir os ídolos de barro, mas não alcança os resultados esperados, teria ele vindo no tempo correto ou antes do seu tempo? Para Kardec, os tempos haviam chegado ou não? Os conchavos que privilegiam os interesses grupais e infirmam o conteúdo precioso, sob a falsa capa de o estar protegendo, tais conchavos são o que é possível? O bom senso e o contexto indicam que o tempo de Kardec foi o tempo correto (ele mesmo o confirma em mais de uma ocasião), de modo que não se justifica esperar dos seres humanos resultados diferentes dos que são objetivados.

O leitor do livro “Ponto Final” que dá causa ao presente artigo diz, entre outras afirmações: “Queria te contar sobre o quanto eu gostei do seu livro. Sem demagogia, mas nestes 30 anos em que sou espírita, este foi um dos melhores livros que já li sobre a história do espiritismo. Sempre compartilhei da mesma opinião e visão que você: de que a doutrina estava distorcida e que a influência católica no movimento é muito grande” (sic). E para comprovar que estudou o livro enviou junto as duas fotos que aparecem acima.

Os leitores, como se vê, reagem a seu modo e de maneira particular aos conteúdos que folheiam. Mas é preciso pontuar que reagir de modo puramente emocional pode impedir a apreciação justa dos fatos e seu valor, como ocorre com aqueles que às primeiras linhas de um livro ficam de tal modo abalados que sequer conseguem prosseguir e completar a leitura, tornando-se então incapacitados à análise serena do conteúdo e das intenções do seu autor.

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