REVISTA METAPSÍQUICA

No período de maio de 1936 a janeiro de 1937 (datas estimadas, carecendo de comprovação definitiva) a Sociedade Metapsíquica de São Paulo publicou uma revista no formato 16 x 23 cm, em preto e branco tanto na capa como no miolo. A direção esteve a cargo do membro da Sociedade, Canuto de Abreu, hoje reconhecido por seus livros, pesquisas e, especialmente, pela posse de documentos valiosos sobre Allan Kardec obtidos diretamente na França pouco antes da eclosão da segunda guerra mundial, em Paris. Canuto era advogado e médico homeopata, além de formado em Farmácia.

Possuo quatro dos cinco números dessa revista, menos o exemplar de número 1. A publicação saía bimestralmente com material assinado por articulistas reconhecidos e foi nesta revista que Canuto de Abreu deu início a série de artigos sobre Bezerra de Menezes, que depois foi reunida em livro. Além de dirigir e escrever, Canuto de Abreu contava com colaboradores como o médico Militão Pacheco, o deputado federal Campos Vergal, Pery de Campos e Carlos Imbassahy.

O número 2 da revista, datado de junho-julho de 1936, apresenta alguns bons artigos e uma curiosidade: um soneto psicografado por Chico Xavier especialmente para a revista Metapsíquica e assinado por Augusto dos Anjos. Chico, então, era um nome em ascensão, mas estava longe ainda da fama. Seu livro de entrada, Parnaso de Além-Túmulo, havia sido lançado há apenas quatro anos. No fac-símile abaixo o soneto pode ser apreciado, bem como as considerações em estilo comedido do autor da notícia.

Historiadores e curiosos terão excelente material de análise na revista, podendo verificar que os metapsiquistas e os espíritas quase se confundiam nos seus interesses, soando isso como nota positiva, ressalte-se. Canuto tinha, como se sabe, grande interesse no Espiritismo e quase sempre se utilizava da oportunidade da revista para abordagens sobre a doutrina de Kardec. Além disso, possuía um bom faro jornalístico para as notícias, especialmente as internacionais. Para tanto, mantinha ao final da revista uma seção intitulada Notas, onde reunia informações e curiosidades sobre os fenômenos que interessavam à Metapsíquica e, claro, ao Espiritismo, resultado de suas pesquisas em jornais e revistas de circulação em línguas estrangeiras.

A Revista Metapsíquica teve vida curta e tudo indica que foi extinta devido à causa comum a todas as publicações do gênero: problemas financeiros. A prova disso está nos constantes apelos feitos para que os leitores fizessem assinatura da revista, o que parece não ter ocorrido em número suficiente. No começo, a revista era distribuída gratuitamente, mas a partir de determinado número passou a chegar às mãos apenas dos assinantes.

Por fim, vale acrescentar que a Sociedade Metapsíquica de São Paulo foi extinta pouco tempo após a criação da Federação Espírita do Estado de São Paulo, fato ocorrido no ano de 1.936, para onde a maioria dos seus membros migrou e onde passou a colaborar. Ali, Canuto de Abreu teve participação importante, inclusive quando, em 1.950, Edgard Armond conseguiu aquilo que até então no Brasil ninguém havia conseguido, ou seja, implantar cursos regulares de Espiritismo. Coube a Canuto de Abreu defender os estudos a que denominou “Evangelho por fora”, do que resultou um livro primeiramente publicado pela Feesp na década de 1950 e posteriormente desenvolvido pelo autor.

Eduardo Carvalho Monteiro, em seu livro “100 anos de comunicação espírita em São Paulo”, registra a existência da revista Metapsíquica, porém, infelizmente, não teve tempo de aprofundar as pesquisas sobre ela e seus membros.