Categoria: Imprensa

Espíritas à esquerda. E eu?

Apenas quem está no interior pode buscar saídas laterais; ninguém sai se não estiver no interior, mas a entrada, esta, sim, pode ser feita pelas laterais.

Ademar Chioro dos Reis entre os ex-ministros Carlos Gaba e Miguel Rosseto.

O assunto, espiritismo e política, vem de longe, da época em que se lançaram alguns a refletir sobre o quanto há de identidade entre as propostas sociais espíritas e os pensamentos fundadores dos diversos movimentos filosóficos, sociológicos e outros, tornados públicos ao longo dos tempos. Alguns enlaces, como marxismo e espiritismo, causaram arrepios em muitos, enquanto outros, como os movimentos de fundação de partidos políticos espíritas, impuseram fortes discussões de intensidade elevada que acabaram abortados. O tema – a política e as ideologias que a orientam – passaram pelo movimento espírita jovem e pelo movimento espírita dos velhos, assim mesmo, no sentido pragmático da anotação. Os jovens, em seus arroubos naturais à idade, com louváveis capacidades de se lançarem aos novos ideais, impendentemente dos “perigos” e os velhos, em sua imatura decisão de implantar projetos inexequíveis, incompatíveis e desnecessários como aquele da fundação de um partido político espírita pelos idos de 1960, ou outros tipos de inflexões extremadas.

O movimento espírita nasceu nas elites e se expandiu para a classe média, especialmente no Brasil, onde essa classe é por muitos vista por seus comportamentos conservadores das conquistas e modos de vida consumista, (mais…)

A loucura sob o mesmo prisma

Veja fez mais uma: publicou uma matéria sobre Divaldo Franco onde a clareza, a objetividade e a concisão foram engolidas pelo espaço e pela incompetência.

Divaldo P. Franco, médium

Pessoas que se dizem espíritas e não passam de espiritóides estão enviando mensagens para este blog desancando a figura deste escriba e tantos outros dedicados estudiosos do espiritismo. Tudo isso por causa de uma opinião que dei na magra publicação de Veja São Paulohttps://vejasp.abril.com.br/cidades/medium-divaldo-franco/?utm_source=whatsapp – sobre o médium baiano, Divaldo Pereira Franco, e o filme que resvala na sua história de vida, cujo título exalta “o mensageiro da paz”. Chamo-os de os loucos do Divaldo.

Deram à repórter que assina a matéria – ou ela mesma pautou – a incumbência de noticiar o lançamento do filme num espaço que não cabe mais do que a própria notícia, mas ela desejou fazer o que Veja – quiçá em fase terminal – sempre foi pródiga: “causar”. Saiu um arremedo de matéria, que nem noticia nem conta uma história.

De minha boca tiraram o que a repórter chamou de “acusação”: “Ele recebe os temas de sua mentora, Joanna de Ângelis, mas desenvolve as ideias e escreve os livros de acordo com a própria mente”. Pediram-me o depoimento sobre o pensamento de Herculano Pires a respeito do médium focado, mas a repórter “esqueceu-se” do assunto principal da entrevista, inclusive, de que desejava a opinião de Herculano, sobre a qual disse esta bobagem: “Falecido em 1979, Pires passou boa parte da vida questionando a mediunidade de Divaldo”. Para os que não sabem e os loucos do Divaldo, (mais…)

A proposta espírita e os caminhos transversos da doutrina

(Especial para a Revista Evolución)*

Luz e trevas, silêncio e som, liberdade e prisão. As grandes verdades encontram mais facilmente o seu oposto, as mentiras, quando os homens se concedem a ser heterônomos.

Lendo ainda no textão entregue à editora, com seus rabiscos e indicações de primeira revisão, tenho diante de mim o livro cuja capa ilustra este artigo, assinado pelo amigo Paulo Henrique Figueiredo, em lançamento no Brasil neste mês de agosto de 2019. Seu título começa com uma palavra de fundamental importância: autonomia, ou seja, o antônimo de heteronomia. No espiritismo, a distância entre as duas palavras não se resume aos sentidos semânticos, mas à própria história da doutrina, escrita sob a permanente luta entre a liberdade e a prisão. Daí o subtítulo do livro incorporar a expressão “a história jamais contada”.

Autonomia resume muito bem o objetivo espírita de conceber o homem como ser capaz de construir o próprio destino sob o amparo do livre-arbítrio e de utilizar esse mesmo caráter em sua procura incessante pelo conhecimento como base de sua superação pessoal e das amarras que o retêm ao chão do planeta. As doutrinas heterônomas propõem exatamente o contrário: a submissão e a dependência a um poder dominante e limitador.

Ao dizer isso, não estou apenas elogiando o autor de mais uma obra de importância nos caminhos da doutrina legada por Allan Kardec, que todos os admiradores do mestre conhecem o altíssimo valor, mas, com a flama da convicção a tremular, afirmo que a obra traz a marca da reescrita da história da doutrina, seja em seu percurso no Brasil, no continente americano ou no velho mundo, de onde veio altaneira e livre, sobranceira e bela. Em especial no Brasil, pelo que essa história contém. Para tanto, o livro está amparado em documentos relevantes que permitem, já agora, lançar um novo olhar para os fatos desde os anos 1850 até os dias atuais, e com isso superar os conflitos dos caminhos transversos pelos quais passou e passa ainda o espiritismo.

Para espíritas brasileiros e estrangeiros que desconhecem os fatos a que aludo – e brasileiros são a maioria devido à proliferada atitude das instituições dominantes de contar a história ao sabor da ficção – os caminhos transversos apontados se constituem em desvendamento, em retirada do véu colocado sobre a verdade, com vistas a recontar tal história, desnudando a efígie, afinal as vestes com que é mostrada não fazem parte de seu corpo escultural. (mais…)

Espiritismo, complementações e cuidados

A obra de Chico Xavier surgiu de forma tão avassaladora quanto sua partida deixou um misto de admiração e respeito, mitificação e aceitação plena de sua produção mediúnica, como se não precisasse de mais nenhuma análise à luz da razão espírita e pudesse substituir as obras básicas no estudo do espiritismo.

Entre Freitas Nobre e sua esposa, Marlene, Chico Xavier em evento em São Paulo

A doutrina do espiritismo, tão logo se consolidou, enfrentou todos os desafios que uma teoria revolucionária enfrenta, mas poucos, na atualidade, podem entender isso na sua amplitude real. Já após a partida de Allan Kardec surgiram com mais destaque movimentos de reforma e acréscimos, complementos e supressões que hoje ficam claros ante as pesquisas e podem passar por reavaliações sob o suporte de documentos inquestionáveis.

Não se pode olvidar que a ação humana é capaz de enriquecer e empobrecer, fortalecer e enfraquecer, a depender dos interesses em jogo no campo do conhecimento. Da mesma maneira, não há como colocar de lado as imensas dificuldades que o ser humano possui para sustentar com bom-senso as verdades que se mesclam às ideias sem o lastro das provas, num cenário de decisões a serem tomadas, inevitavelmente. Quase sempre muitas verdades são aceitas em meio a mentiras ou falsas teorias, compelidos que os seres são a manter, em meio aquilo que se expressa por bom conhecimento, crenças baseadas apenas na emoção ou na ilusão e, para aproveitar uma expressão desses nossos tempos, juntos e misturados. Ou seja, o joio sufocando o trigo que luta por frutificar. (mais…)

Uma nova casa para o Lar. Com o seu apoio

Entre as obras sociais respeitáveis e de trabalho eficiente em prol de uma sociedade mais justa e fraterna, o Lar dirigido pelo amigo espírita Gezsler Carlos West e equipe, em Recife, Pernambuco, deve e precisa merecer o apoio de todos.

Gezsler em palestra no Instituto Gabriel Dellane, Recife.

A instituição faz um trabalho de amparo a crianças em situação de risco na cidade de Recife. Em convênio com o Juizado de Menores, que encaminha as crianças, o Lar Paulo de Tarso as recebe, cuida, promove a educação, assistência à saúde, apoio psicológico e toda uma ação com vistas a reintegrá-las à sociedade, seja colocando-as de volta à família, seja encontrando famílias dispostas à adoção.

Nestes anos todos, sem alarde e de modo muito discreto, inúmeros são os casos de crianças que para lá são enviadas, em situação de necessidades extremas. São recuperadas de lixões, de locais de consumo de drogas, largadas por pais que vivem em situações semelhantes, crianças que muitas vezes beiram à condição animal de vida.

A casa onde o Lar está instalado há já bons anos é um imóvel alugado, simples, localizado em bairro periférico da cidade. Diante das condições atuais e das necessidades futuras, o Lar precisa de apoio para enfrentar esse desafio, uma vez que sua sustentação é feita por um punhado de gente que se sensibiliza com a situação, mas cujo apoio tem servido quase sempre as o custeio das necessidades básicas.

Reproduzo, a seguir, o texto disponibilizado pelo amigo Gezsler e sua equipe, descrevendo o projeto para uma sede nova e própria e convido a todos a emprestarem seu apoio à causa, certos de que estarão destinando recursos para uma instituição séria, honesta e merecedora.

Campanha nova casa

O Lar Paulo de Tarso está dando um passo importante, necessário e desafiador: comprar uma casa. Nestes 28 anos de existência o Lar funcionou em imóveis alugados, que possuíam espaços físicos limitados, custos mensais adicionais e desgastantes mudanças de endereços. 

Em uma análise criteriosa e realista das nossas necessidades presentes e futuras, definiu-se pela compra de uma casa. (mais…)

A festa, o embate e a razão

No espiritismo, a autonomia prevalece sobre a heteronomia.

Como fica a doutrina espírita após a retirada, neste dia 10 de agosto de 2019, do artigo sobre as obras de J.-B. Roustaing, dos Estatutos da Federação Espírita Brasileira? 

Em 1904, quando a FEB realizou no Rio de Janeiro, então capital da República, o evento para comemorar os 100 anos do nascimento de Allan Kardec, a defesa da obra Os quatro evangelhos dentro daquela instituição já estava estabelecida e foi este o motivo para que a instituição tentasse, com êxito parcial, introduzir a aceitação de tal obra nas conclusões do evento. O objetivo, então, era colocar a doutrina de Roustaing como a indicada para os estudos “relativos à fé” no que diz respeito ao espiritismo, considerando-a como superior aos Evangelhos segundo o espiritismo.

Diz-se que o êxito foi parcial porque a reação contrária à obra de Roustaing impediu a aceitação simples da proposta, determinando-se que ficaria a critério dos espíritas utilizar ou não Os quatro evangelhos, permanecendo, pois, com o estudo de O Evangelho segundo o espiritismo. Reconheça-se, mesmo que o êxito tenha sido parcial, foi uma vitória para os líderes da FEB de então e um desastre de grandes proporções para a doutrina espírita. (mais…)

Justiça social não cobre em extensão o sentido de Caridade

Justiça social é uma construção moral e política baseada na igualdade de direitos e na solidariedade coletiva. Em termos de desenvolvimento, a justiça social é vista como o cruzamento entre o pilar econômico e o pilar social. (Wikipédia)

Fez-se recentemente uma conjectura sobre a presença de Kardec reencarnado nos dias atuais, admitindo-se que, neste caso, ele possivelmente daria preferência ao termo Justiça Social em detrimento ao termo Caridade. Assim, teríamos “fora da justiça social não há salvação” em lugar de “fora da caridade não há salvação”. Certamente, para que tal mudança ocorresse, teríamos de convir que também os Espíritos que assessoraram o codificador assim pensariam, de modo a ocorrer o que no século XIX aconteceu: a opção de Kardec pela definição do paradigma “fora da caridade não há salvação”. Mas tal decisão, hoje, não teria por motivação a oposição ao que pregava, então, a Igreja Católica, que afirmava “fora da Igreja não há salvação”, uma vez que as lutas contemporâneas já não mais se concentram com igual força nas religiões, mas, sim, nos conflitos sociais, que por si mesmos são conflitos políticos e econômicos, em que o espectro social assenta-se nos extremos da injustiça e afrontam violentamente, por isso, a individualidade humana nos seus direitos mais simples. (mais…)

Um documentário de valor

Dora Incontri e Karim Akadiri Soumaïla, como se pode ver no trailer disponível aqui neste blog e em outros canais, estão com um projeto de documentário sobre Allan Kardec – Em busca de Kardec – de um valor grande, seja pela sua originalidade, seja pelo capricho no trabalho de filmagem e roteirização. E precisam do apoio dos espíritas e admiradores para concluir o projeto.

Na data de hoje, 2 de junho de 2019, precisamente às 6:11h, como atesta a imagem ao lado, conseguiram arrecadar apenas 24% do valor total necessário para a finalização do material. Ou seja, perto de um quarto desse valor. É muito pouco.

Com certeza, muitos podem e devem apoiar. É preciso se sensibilizar mais com a cultura, tanto quanto se sensibiliza com a caridade material, pois a cultura é também caridade e das mais profundas. A caridade cultural, como defendia Herculano Pires, aquele que conhecemos como o mais destacado cultor das letras espíritas, é das mais importantes porque se traduz em doar alimento para a alma, que outro não é que conhecimento.

Deve-se destacar, para informação dos que não perceberam ainda, que o documentário ora em realização é bastante diferente do filme em cartaz, de título Kardec, a história por trás do nome. São ambos importantes, mas o documentário busca trazer para os dias atuais os fatos da vida e época de Kardec utilizando-se tão somente de documentação, de provas, com a única finalidade de mostrá-los em suas minúcias verificáveis. Não será um filme a lançar no circuito nacional, nem poderá contar com altas bilheterias, pois seu objetivo é outro: distribuir conhecimento.

O apoio, portanto, a esse projeto se torna vital para que ele seja concluído e colocado à disposição do público, pois, com isso, será possível incorporá-lo entre os trabalhos que buscam, sem pretensões proselitistas, elevar o nível de conhecimento do homem e seu trabalho na construção de uma doutrina importante para o ser humano.

Temos no âmbito do espiritismo brasileiro muitas Editoras, Distribuidoras de livros, livrarias comerciais, instituições federativas, escritores etc., cujo apoio financeiro será dos mais importantes e valiosos para o projeto. Apoiar algo como isso é colocar a boa divulgação da doutrina acima de quaisquer barreiras, é despojar-se da indiferença e juntar-se aos demais sob o manto do Bem.

Vamos lá, vamos ajudar! Vamos arregaçar as mangas com a Dora e o Karim, para concluir o trabalho, colocando, assim, o nosso quinhão, por pequeno que seja, nessa obra. Clique aqui e vá ao Catarse, seja um apoiador. Não espere mais.

O discurso no filme: Kardec, a história por trás do nome

Quem for assistir o bom filme Kardec no circuito nacional poderá dizer que o discurso final já está antecipado pelo título? Não! O filme não é um discurso de Allan Kardec sobre Allan Kardec, mas um texto assentado sobre três fases de um discurso que só fica pronto quando o filme é finalizado. A saber: temos um discurso inicial elaborado no roteiro, que será transformado em imagens sob a condução de um diretor a partir da interpretação dos atores, com seus planos e subplanos, para finalmente alcançar o discurso verdadeiro com a montagem. Então, é preciso assistir ao filme para conhecer o discurso, o sentido deste em suas propostas de significação. É aí que entra o espectador, como destinatário e construtor dos sentidos.

Assisti ao pré-lançamento do filme, mas antes de ir à sua análise desejo informar que tem sido longo e doloroso o esforço dos espíritas em mostrar a doutrina através da sétima arte. Vimos diversos filmes feitos e lançados em circuito nacional que, apesar da boa vontade, são péssimos no quesito qualidade. A par disso, temos sido surpreendidos, de quando em quando, por produções comerciais, feitas no Exterior, de ótima qualidade, alguns destes filmes muitas vezes pouco conhecidos pelos espíritas, outros de baixa bilheteria, mas todos eles se colocando como ótimas contribuições à comunicação dos princípios básicos da doutrina. (mais…)

Herculano Pires, o ícone ainda desafia os estudiosos da boa doutrina


40 ANOS DEPOIS


Herculano Pires: sua biografia está traçada por linhas expressivas saídas da pena rigorosa do inseparável amigo Jorge Rizzini

“Enganam-se os que pensam na morte como morte”. J.H.P.

 

O cemitério São Paulo estava repleto naquela tarde de 9 de março de 1979. Familiares, amigos, admiradores, curiosos e autoridades do meio espírita e da sociedade assinavam com sua presença o livro da despedida, do até breve. O sol banhava de luz amarelo-claro os túmulos, já desenhando a sua parábola descendente, como a dizer que também se encerraria no túmulo da noite. O corpo de Herculano, então com quase 65 anos de vida, estava colocado sobre a lápide, também pronto a encerrar seu ciclo, mas, assim como o sol renasceria na manhã seguinte, também Herculano retornaria para mais uma vez dizer que não só a morte é um engano, como também vivos são igualmente os que dizem os daqui estarem mortos.

No lento processo de construção do destino, Herculano Pires jovem ainda impressionou não só o mundo dos que o rodeavam, mas intelectuais distantes, de capitais onde a intelectualidade se destacava, com suas produções iniciais, em prosa e verso. Pelos vinte anos, o jornalista que já agia movimentando prensas e penas, viu-se frente aos primeiros contatos mediúnicos (mais…)