REVISTA VERDADE E LUZ

A segunda época da revista Verdade e Luz, hoje praticamente esquecida, ajuda a recuperar parte importante da história do Espiritismo e a corrigir enganos cometidos na biografia do extraordinário espírita conhecido por Batuíra.

O jornal Verdade e Luz, fundado em São Paulo no final do século XIX pelo português Antonio Gonçalves da Silva, apelidado de Batuíra, teve uma vida e uma história considerável, dividida em duas partes: a primeira época, em que a publicação começou como jornal e quase ao final desse período transformou-se em revista, e a segunda época, quando retornou à circulação após um período de interrupção, como revista de boa qualidade. É desta segunda época que vamos falar, uma vez que ela se encontra esquecida e não conta com registros capazes de serem compulsados pelos pesquisadores e historiadores.

Tenho em mãos 36 exemplares da revista Verdade e Luz, segunda época, correspondendo aos anos 1922, quando foi retomada depois de quatro anos sem circular, até 1926. Tudo indica que saiu do cenário ao final de 1926 e não mais retornou. Seu diretor, Pedro Lameira de Andrade, após esse ano, seguiu como presidente da Instituição Verdade e Luz até a data de sua desencarnação, ocorrida em 1937.

O colégio Allan Kardec, fundado por Eurípedes Barsanulpho, foi tema de várias reportagens na revista Verdade e Luz, acompanhadas de fotos como esta.

Os exemplares da revista Verdade e Luz são uma fonte permanente de curiosidade e não resta dúvida que o material nela contido atende com sobra ao desejo de saber sobre o pensamento e os fatos do período em que a revista circulou, fatos estes não apenas relacionados a São Paulo, mas também ao panorama doutrinário nacional. Vejamos, portanto, alguns deles.

O primeiro número da 2ª época aparece com a data de 3 de maio de 1922, interrompendo, assim, o período de quatro anos em que a revista teve sua publicação interrompida. Agora sua periodicidade é quinzenal e ela ressurge como órgão não apenas da Instituição Verdade e Luz, mas, também, da Associação Espírita São Pedro e São Paulo, à qual Lameira de Andrade estava ligado. Mais tarde, por razões não conhecidas ainda, a revista se torna órgão oficial apenas da Associação. Em novembro de 1923, ela passa a circular mensalmente, premida pelas dificuldades financeiras, fato que se mostrará constante a partir de então. E em janeiro de 1926 a periodicidade se torna incerta.

Neste primeiro número aparece uma nota à página 19 com o seguinte título: “Seria fluídico o corpo de Jesus?” Lameira de Andrade informa que está ultimando a publicação de um livro de análise do propalado corpo de Jesus no qual se conclui que esse corpo era carnal e não fluídico, como desejam os roustainguistas. No período de preparação do meu livro “O corpo fluídico”, em 1981/1982, de posse dessa notícia, envidei esforços para encontrar o referido livro, sem sucesso. A própria revista jamais deu notícia sobre o lançamento desse livro, o que leva a crer que não tenha sido publicado. No entanto, era evidente o desgosto de Lameira de Andrade com aqueles que defendiam a tese roustainguista, tanto assim que em diferentes números da revista ele retoma o assunto de forma crítica.

Inúmeros articulistas conceituados passaram a escrever na Verdade e Luz nesta sua 2ª época, já a partir de 1922. Entre eles estão: Pedro de Camargo, assinando com o pseudônimo de Vinícius, Vianna de Carvalho, Pery de Campos, Mariano Rango D’Aragona, que manteve uma seção onde escrevia em italiano; Romeu do Amaral Camargo, Aura Celeste (com textos próprios e psicografados, pois era, então, médium), além de outros.

O número 4, de 18 de junho de 1923, tem grande parte de suas páginas, a capa, inclusive, dedicadas a um fato que ganhou destaque na imprensa em geral e nos meios espíritas. Trata-se da conversão do conhecido escritor e poeta Coelho Netto ao Espiritismo. De início, a revista reproduz o texto escrito e assinado pelo próprio escritor, publicado pelo Jornal do Brasil, edição de 7 de junho de 1923, no qual o literato revela sua conversão. Na sequência, aparece um outro texto da redação com comentários entusiasmados sobre esse fato. Na mesma edição, a revista reproduz um outro texto literário assinado por Coelho Netto, fato que se repetiria nas edições posteriores. Finalmente, em dezembro a notícia de que naquele mês Coelho Netto estaria fazendo uma conferência no Teatro Municipal de São Paulo, cuja renda seria revertida a favor do Abrigo Batuíra, sob o título “A vida além da morte”, conferência esta publicada posteriormente na forma de opúsculo.

As dificuldades financeiras enfrentadas pela Instituição Verdade e Luz e seus projetos de assistência social faziam com que Lameira de Andrade e seus pares recorressem a diversos expedientes para vencer as dificuldades. Um dos meios que se tornaram comuns, como se observa das diversas leituras no acervo da revista Verdade e Luz, era a promoção de rifas e sorteios, muitas vezes com prêmios valiosos. A edição de setembro de 1924 é um exemplo disso, como se pode comprovar no anúncio publicado na 3ª capa da revista, na imagem ao lado.

 

O provável último número da revista Verdade e Luz foi publicado em outubro de 1926. A princípio, não há indícios de que a revista estava encerrando sua publicação. Entre as notícias, chama a atenção aquela que informa, em cinco páginas, sobre a desencarnação do conhecido líder espírita Vianna de Carvalho, fato ocorrido no dia 3 daquele mesmo mês, estando Vianna a bordo do navio Íris, no qual havia embarcado em Recife, onde então residia, em direção ao Rio de Janeiro, para tratar de uma grave doença que o debilitava. Porém, um encarte (reproduzido ao lado), colocado de última hora, avisava sobre a suspensão da publicação da revista e informava que depois de organizada a recém-fundada Federação Espírita do Estado de São Paulo, um novo órgão de imprensa certamente surgiria. Mas como a Federação parece não ter vingado, a revista seguiu-lhe os passos

Eduardo Monteiro, seus livros históricos e a revista Verdade e Luz

Aqui é preciso fazer um registro e algumas correções. Eduardo Carvalho Monteiro, com quem dividi uma longa amizade e a coautoria de três livros, escreveu duas obras de resgate da figura sem par de Batuíra. Uma delas é a biografia desse português extraordinário; a segunda é o livro onde narra a história da imprensa espírita em São Paulo nos cem anos anteriores à edição do livro. Eduardo escreve que o jornal Verdade e Luz é um dos pioneiros da imprensa espírita em terras paulistas, uma vez que foi lançado no ano de 1890, mas não registra, em nenhum dos dois livros, este fato: Verdade e Luz teve duas fases, sendo a segunda sob o comando do advogado Pedro Lameira de Andrade, cujo marco inicial é o ano de 1922. Lameira de Andrade assumiu a direção da Instituição Verdade e Luz, fundada por Batuíra, no ano de 1921 e a comandou até 1937, conseguindo recuperá-la de sua quase extinção. Eduardo registra apenas a primeira fase do jornal. A pergunta é: por que?

Vamos à história desde alguns anos antes. Em 1993, eu havia combinado com meu amigo e editor Arnaldo Rodrigues, da Editora EME, o lançamento do livro “Sinal de Vida na Imprensa Espírita”, no qual resgatava fatos importantes do Espiritismo ocorridos durante os 14 anos em que militei como membro da equipe de redação do jornal Correio Fraterno do ABC (hoje apenas Correio Fraterno), editado então na cidade de São Bernardo do Campo. Eduardo me procurou e ofereceu-se para co-assinar o livro, incorporando ao mesmo um texto de resgate histórico intitulado “70 anos de imprensa espírita em São Paulo”, o que acabou acontecendo. Este mesmo texto serviu de base para o livro que posteriormente publicou sobre os “100 anos da imprensa espírita em São Paulo”, mas nesse livro o registro da história da segunda época da revista Verdade e Luz só aparece como menção e complemento à citação do advogado Pedro Lameira de Andrade, que foi o continuador da revista. Nenhuma informação mais específica e objetiva, apesar da importância da revista para aquela ocasião, bem como pelo fato de ser ela a continuidade do projeto de divulgação espírita empreendido por Batuíra.

Quando Eduardo comunicou-me a intenção de ampliar o texto dos 70 anos para os últimos 100 anos da imprensa espírita em São Paulo, coloquei em suas mãos todos os exemplares que possuía da segunda época da revista Verdade e Luz. Pouco antes de publicar o livro, Eduardo devolveu-me, a meu pedido, aqueles exemplares, pois eu desejava continuar os meus estudos sobre o material contido naquela publicação. Minha surpresa foi grande ao constatar que o livro do Eduardo não fazia nenhuma menção às revistas, deixando, portanto, um vazio histórico aí.

A mesma surpresa tive quando compulsei o livro biográfico “Batuíra, Verdade e Luz” escrito pelo Eduardo. Também ali não havia menção à segunda época da revista. E a pergunta que me fiz continua sem resposta, ou seja, por que razão Eduardo omitiu a existência dessa fase da revista? Terá havido um extravio dos exemplares em sua própria biblioteca quando da pesquisa e escritura dos referidos livros? É possível, uma vez que Eduardo sempre foi muito meticuloso em seus estudos e anotações. Um fato, porém, é indiscutível: Eduardo não chegou a compulsar os exemplares que lhe emprestei, senão não teria deixado passar uma grande quantidade de informações e fotos sobre o seu biografado e a instituição que ele fundou, informações essas publicadas nos diversos números da revista, algumas cruciais para a compreensão da vida e da obra de Batuíra.

Sobre a revista Verdade e Luz, Eduardo informa apenas o seguinte no livro referido: “Não sabemos se o periódico circulou após o desencarne de Batuíra, mas tudo indica que não, por muito tempo, face às dificuldades financeiras encontradas por seus sucessores. Em dezembro de 1922, já sob o comando de Lameira de Andrade, voltou a circular quinzenalmente em formato de revista”. A verdade, porém, é que os registros indicam que a revista deixou de circular somente em 1918, ou seja, nove anos depois da desencarnação de Batuíra, sendo que quatro anos após, em 1922, Lameira de Andrade retomou a sua publicação.

Prédio adquirido para instalação do Abrigo Batuíra, fundado na administração Lameira de Andrade

As notas que Eduardo apresenta sobre a Instituição Verdade e Luz do período pós-Batuíra contêm lacunas, especialmente em relação à administração de Lameira de Andrade, sobre quem Eduardo parece não ter conseguido material mais consistente, material que a revista em sua segunda época já fornecia, mas que ele, infelizmente, não percebeu. Por exemplo, foi na administração de

Lameira de Andrade que a Instituição adquiriu um grande imóvel na Capital paulista (e não em Poá, como equivocadamente registra Eduardo) destinado à instalação do Abrigo Batuíra inaugurado em 1º de abril de 1923. A edição da revista de 18 de abril de 1923 traz matéria sobre o fato, acompanhada de fotos do imóvel e da transcrição da ata de fundação, onde se encontra registrado, inclusive, que o imóvel estava localizado na rua Scuvero, 28, Cambuci.

Equipe da Instituição que comandou a entrega de cestas de alimentos no Natal de 1924. Ao centro, sentado, Pedro Lameira de Andrade.

Foi, portanto, Lameira de Andrade que deu vida ao projeto do Abrigo e não a sua sucessora na presidência da Instituição, Maria Janoni Novazzi, como entendeu Eduardo no livro biográfico de Batuíra. Neste, Eduardo informa que a nova presidente recebeu a Instituição muito endividada e a reergueu, fundando, inclusive, o Abrigo Batuíra, mas – note-se – esta senhora entrou para a Instituição apenas em 1934, como Eduardo, ele próprio, registra, e assumiu a presidência em 1936, porém, o Abrigo Batuíra foi fundado em 1923, sob a administração de Lameira de Andrade.

A Federação Espírita de São Paulo e sua fundação em 1926.

A data de fundação da atual Federação Espírita do Estado de São Paulo (Feesp) é julho de 1936, mas é certo que dez anos antes, ou seja, em 1926 ela foi dada como fundada. A notícia completa se encontra na edição da revista Verdade e Luz de janeiro/fevereiro de 1926 e na subsequente, que corresponde aos meses de março a junho do mesmo ano (veja-se que aqui a revista já passa por problemas de periodicidade). A verdade é que a intenção de criar uma instituição desse porte já vinha sendo amadurecida há alguns anos e a revista dirigida por Lameira de Andrade, curiosamente, mantinha desde o início uma coluna permanente e não assinada com o título de “Orientação aos centros”.

A primeira notícia, que ocupa nada menos do que seis páginas e meia, dá conta de que a fundação estava marcada para uma data próxima e a matéria tem por título “Mais uma pedra”. Vem acompanhada da reprodução de uma extensa circular enviada aos centros espíritas, na qual são elencadas razões que justificam a iniciativa, é apresentada a comissão encarregada da organização da assembleia e é feita a convocação para os centros participarem da fundação da nova instituição. A circular é datada de 24 de fevereiro de 1926 e a comissão de oito membros foi assim constituída: Dr. Pedro de Monte Ablas, Luiz M. Pinto de Queiroz, Prof. Saturnino Barbosa, Dr. Pedro Lameira de Andrade, Cel. Turíbio Guerra, Dr. Augusto Militão Pacheco, Mariano Rango D’Aragona e Dr. Romeu do Amaral Camargo.

Na edição seguinte, com o título “Fundação da Federação Espírita do Estado de São Paulo”, a revista informa: “Conforme noticiamos no nosso número passado, foi, no dia 28 de março, unanimemente fundada a Federação Espírita do Estado de São Paulo, destinada a incentivar e exemplificar a solidariedade entre todas as sociedades espíritas…”. A ideologia norteadora da nova instituição pode ser vista neste parágrafo: “A Federação Espírita do Estado de São Paulo não é uma associação com[o] todas as congêneres existentes no Brasil, sem exceção; é uma “associação de associações”, é uma “síntese de associações”, é o “centro”, o “pivô”, a “fonte”, a “fortaleza”, o “facho” onde as sociedades adesas encontrarão o amparo, a bússola, a luz, a vida enfim. Trata-se de uma crítica ao modelo então dominante de federações criadas e dirigidas por indivíduos, tendo como exemplo a própria Federação Espírita Brasileira, já à época pouco operante e muito contestada. A assembleia de fundação foi dirigida por Pedro de Camargo, o Vinícius, e aprovou a primeira diretoria com mandato de um ano de duração, tendo na sua presidência o Dr. Pedro de Monte Ablas, elegendo, também, um Conselho Deliberativo composto por quarenta membros, sendo 25 individuais e 15 coletivos (centros Espíritas). Dentre os membros individuais aparece o nome do famoso médium Carlos Mirabelli e entre os sócios coletivos o do Centro Espírita Fraternidade, de Jundiaí. Por fim, a assembleia contou com a presença de 62 pessoas, 27 centros espíritas representados, além de 4 veículos da imprensa espírita.

Detalhe interessante: como registrado anteriormente, a revista Verdade e Luz provavelmente, encerrou suas atividades em outubro de 1926, conforme se lê no encarte reproduzido acima. Mas esse mesmo encarte lança dúvidas sobre a Federação Espírita do Estado de São Paulo ao registrar que uma nova assembleia seria realizada e precisaria contar com maior número de centros espíritas e de pessoas, a fim de viabilizá-la. Mais abaixo, lê-se que a Federação teria como seu órgão de imprensa oficial o jornal Diário da Noite, que então era publicado na capital paulista. Pode-se, pois, concluir que nem a revista Verdade e Luz voltou a ser publicada, nem a Federação Espírita conseguiu de fato concluir sua fundação, uma vez que não se teve mais notícias dela e, posteriormente, em julho de 1936, dez anos depois, ela seria novamente fundada e em seus documentos não há menção à existência de nenhuma outra criada anteriormente. As causas desses acontecimentos desafiam a paciência dos historiadores e eventuais interessados nos fatos relacionados aos caminhos do Espiritismo brasileiro.

Um movimento chamado Constituinte Espírita Nacional

Plenário da Constituinte Espírita Nacional realizada no Rio de Janeiro e da qual resultou a Liga Espírita do Brasil.

Desde o momento em que surgiu a ideia, em 1925, do movimento para realizar uma Constituinte Espírita Nacional a revista Verdade e Luz emprestou inteiro apoio e abriu suas páginas para exaltar aquele pleito, que parecia de acordo com a forma de pensar de Lameira de Andrade e seus companheiros, além dos propósitos que alimentavam de dotar o estado de São Paulo de uma Federação Espírita.

Nesta foto da revista Verdade e Luz, a mesa diretora na instalação da Constituinte Espírita Nacional, sob a presidência do Desembargador Gustavo Farnese.

Na edição de novembro de 1925, a revista Verdade e Luz informa sobre o recebimento da circular enviada pela comissão organizadora e reproduz o inteiro teor do documento, registrando, ao final da notícia, a intenção de participar do evento, o que de fato ocorreu através de seu diretor, Lameira de Andrade.

Na edição seguinte, de dezembro daquele ano, a revista dá a notícia de que a FEB havia recusado o convite que lhe fora feito para comparecer e participar da Constituinte, reproduzindo o inteiro teor da carta enviada à comissão por aquela instituição e, em seguida, reproduz também o texto-resposta da comissão à FEB. Ainda nessa edição, a revista reproduz a entrevista sobre a Constituinte, publicada no “O Jornal”, edição de 4 de dezembro de 1925, dada por Nóbrega da Cunha.

Na edição seguinte, de janeiro-fevereiro de 1926, a revista prossegue com a repercussão do evento, mas registra sua crítica ao fato da comissão organizadora não haver ainda publicado o programa dos trabalhos e o anteprojeto da Liga Espírita do Brasil, cuja fundação estava prevista para aquele congresso. Reproduz, também, uma matéria extensa publicada pelo Jornal Espírita, de Porto Alegre, em torno da Constituinte e sua oportunidade, bem como uma entrevista publicada pelo jornal O Globo, feita com o senhor Jarbas Ramos, diretor do jornal Brasil Espírita. Nesta entrevista surgiu a menção à questão defendida por Roustaing do corpo fluídico de Jesus, fato este que levou Lameira de Andrade a acrescentar uma nota esclarecedora do assunto, concluindo pela tese do corpo material, físico de Jesus.

A reportagem sobre a realização da Constituinte, na cidade do Rio de Janeiro, foi publicada na edição de março-junho de 1926 e é antecedida por um depoimento de Lameira de Andrade, onde registra a sua surpresa pelo clima de entendimento e fraternidade que encontrou entre os espíritas presentes, uma vez que, disse Lameira, o comum nesse tipo de reunião entre espíritas é perceber um vazio de ideias e a presença de grupos sectários. Segue-se a reportagem com mais de 18 páginas, com pormenores sobre o desenrolar do evento, a criação da Liga Espírita do Brasil e os passos futuros esperados para a nova instituição.

A Constituinte Espírita Nacional não se realizou pacificamente e Lameira de Andrade não deixa de registrar o fato. Não teve apenas a oposição da FEB, que temia perder seu poder com a fundação da Liga Espírita do Brasil, mas de alguns outros setores do movimento espírita. Por exemplo, Cairbar Schutel publicou em O Clarim, jornal que publicava em Matão, matéria sobre a realização da Constituinte em que a desabonava e, mais, dizia que ela fora desorganizada e confusa, valendo-se disso para dizer: “folgamos imensamente ter nos precavido de tomar parte em tão heterogênea reunião”. Mas Cairbar se utilizou de informações chegadas até ele para emitir seu parecer sem estar ele próprio presente como testemunha ocular da história e isso levou Lameira de Andrade, que era seu amigo, a publicar nessa mesma edição da revista, matéria assinada por Eolia V. Doria, na qual esse autor rebate Cairbar a partir da citação do dito: “contra fatos não há argumentos”, elencando uma série da argumentos contrários, inclusive a opinião daqueles que participaram do evento e os números dos presentes e representados, entre estes mais de 300 centros espíritas do Brasil. Argumenta, também, que à época a FEB era desleixada em relação ao movimento federativo e recebia críticas de todos os lados por isso. Vale-se de informações publicadas pelo então 2o. Secretário da FEB, Guillon Ribeiro, que dava conta de que só haviam 49 centros espíritas registrados como filiados, então, acrescentando que mesmo assim o registro não era confiável, pois estava envelhecido e alguns desses centros já não mais existiam. Assim, o próprio Guillon reconhecia a incompetência da FEB para liderar o movimento, vindo daí a ideia da realização da Constituinte e com esta a criação da Liga Espírita do Brasil para realizar o trabalho que a FEB não conseguia.

A título de informação, a Liga Espírita do Brasil também não logrou êxito nesse campo e foi, anos depois, transformada em federativa do Rio de Janeiro, mas essa é uma outra parte da história. Para informações mais detalhadas sobre a Constituinte e a FEB, clique aqui.