Categoria: Imprensa

Quem foi que disse Deus?

E mais: esta extraordinária peça chamada cérebro.

Às vezes me vejo agitado pensando nos amigos adeptos do nada. Nada existe, nada prossegue, nada sobra, ou que seja imortal enquanto dure, para lembrar a chama do poetinha.

Imagem de ressonância magnética do cérebro humano mostrando as curvas das fibras neuronais. PROJETO CONECTOMA HUMANO MGH-UCLA

Agora sou informado, para bem do meu bem-estar mental, da existência de uma nova rede sobre a rede cerebral conhecida desde Penfield. Há uma duplicidade de redes ou uma rede sobre outra, mas sem duplicidade de funções. Cada uma delas com sua complexidade e sua complexa funcionalidade.

Com isso minha tendência é de me acalmar, ou pelo menos saber que posso; o diabo é conseguir. Minha agitação, dizem os homens de ciência, se explica pela descoberta da nova rede cerebral. É que quando penso nesses amigos do nada a mente-cérebro envia um comando e, no meu caso, o corpo reage na altura do coração, o que me revela agitado. Uma outra pessoa poderia reagir na forma de dor de barriga.

Mas ao mesmo tempo que penso em mente e digo mente-cérebro, sou alertado por um outro neurocientista de que a mente não existe, tudo é cérebro. A nova rede cerebral descoberta é para ele a confirmação do que diz. Se a seguir (mais…)

Onde a raça, (ul)trapaça

O chicote e o tronco recolhidos dos morros do sofrimento foram retirados dos museus da história onde se encontravam, para açoitar a palavra daqueles que “deveriam” ter tido o cuidado de escrever e pensar em acordo com o avanço cultural de 100 anos depois.

A louca alegria do suplício prossegue…

Allan Kardec, o vulto humano gerado nas terras gálicas de um tempo distante e dado à luz na Paris do dia 18 de abril de 1857, ele e seus espíritos insolentes, são as vítimas brancas da mentalidade negra dos justiceiros da atualidade. Estes se lançam aos mesmos espaços públicos onde teriam sido um dia personagens e vítimas do açoite empunhado pela mão desumana e agora gritam por justiça, tendo à sua frente, de cabeça baixa e olhos ao chão, aqueles cuja obra rompeu, como poucas, o pensamento retrógrado do bem e do mal. O açoite tine aos ventos enquanto o sangue das palavras espirra para todos os lados. O homem que dá a voz de comando nesta nova colonialidade respira, com parcial alívio, por afrouxar do peito o traumático cravo ali pregado, que há tempos o atormenta. Sorri, feliz. Enfim, a justiça está em andamento. Onde a raça, (ul)trapaça.

Mas o ódio, embalado com o celofane translúcido deste tresloucado afeto, só se dará por extinto quando todos os corpos e todos os espíritos vierem ao chão tingido por todos os sangues. Neste 18 de abril de 2023, a nova vítima foi apresentada no Gólgota (ou Pelourinho?) da virtualidade: O livro dos espíritos, posto disponível para gregos e romanos como o infiel convertido e, enfim, salvo. Eis que agora é antirracista. No novo Index Librorum Prohibitorum foram lançados o pensador e a obra incorrigivelmente racista. A paz transparece estranha e serena num céu de nuvens densamente carregadas. (mais…)

O futuro é amanhã

O EàE é a inteligência artificial do espiritismo e assim como no meio tecnológico todos a temem e ninguém sabe para onde vai, o antirracismo do EàE é a tentativa de controlar a doutrina sem o apoio dos algoritmos.

O dilema que está por trás do argumento apresentado pelo EàE, de que está sendo vítima do discurso de ódio é falso. Ao se colocar como vítima, encontra o discurso ideal para fugir do diálogo e sair como herói, mas herói de papel, cuja única utilidade – se é que isso contém alguma utilidade – é abreviar o tempo de condenação geral do pensamento de Allan Kardec, para tal utilizando-se de um único tiro: Kardec é racista e como tal todo o seu pensamento o é também.

É através desse artifício que a inteligência mesquinha do EàE, o paladino auto erigido do antirracismo que, por falta total de capacidade de agir socialmente de forma plural sem uma bandeira emprestada, aqui no meio espírita se localiza. Por ser mesquinha, egoísta e miseravelmente artificial, é também a reedição de um tal exército de Brancaleone formado pelos pobres esfarrapados factuais perdidos nas estradas vicinais do pensamento espírita.

O EàE decreta para amanhã, dia 18 de abril, quando espíritas de todo o mundo comemoram o lançamento da primeira edição de seu livro básico, aquela com pouco mais de 500 perguntas, no longínquo, mas presente ano de 1857 na cidade luz, Paris. (mais…)

A excêntrica postura que revela o extremismo disfarçado de justiça social

Escandalosa tanto quanto vergonhosa, a palavra antirracista aplicada a uma edição de O evangelho segundo o espiritismo configura um verdadeiro estupro levado a efeito na terceira obra da doutrina.

Em 1974, quando José Herculano Pires denunciou a surpreendente tradução de O evangelho segundo o espiritismo feita por Paulo Alves Godoy e publicada pela Federação Espírita do Estado de São Paulo, estava em curso um danoso projeto de retalhar os cinco principais livros do espiritismo escritos por Allan Kardec. Herculano já vinha há algum tempo alertando sobre isso, conhecedor que era das intenções de certos líderes de promoverem, a título de atualização de linguagem, a alterações no pensamento do fundador do espiritismo.

A intervenção, firme e dura, do principal pensador espírita de então foi providencial e fez, primeiro, estancar a gangrena em seu início para, depois, paralisar e extinguir o malfadado projeto. A publicação do livro adulterado ficou naquela edição. Mas a intenção que levou àquele ato se reproduziu posteriormente com o lançamento de uma nova tradução do mesmo livro, agora feita por Roque Jacintho, que, se não repetia os mesmos defeitos de Paulo Alves Godoy, suprimia partes do texto do livro sob o falso argumento de que os assuntos tratados não faziam sentido mais. Herculano Pires, já desencarnado, nada pôde fazer.

Uma imagem pode não valer por mil palavras, sequer por uma; aliás, uma imagem só adquire algum valor por meio da palavra, pois somente a palavra tem a capacidade de dizer o significado da imagem. Pois é a palavra que escancara e desorganiza a imagem que surge no ambiente digital quando se depara com a capa do livro recém-publicado O evangelho segundo o espiritismo. Intrusa e agressiva em sua violência subsumida, ela grita: EDIÇÃO ANTIRRACISTA. Assim mesmo, em vermelho sangue como se brotasse do peito da mulher negra em sua beleza serena ao fundo, fazendo coro com a coroa de espinhos que carrega na cabeça. Desta, porém, não sai nenhuma gota de sangue, nem da fronte e do rosto dela qualquer sinal de dor. Todo o efeito e peso se transfere para a expressão – EDIÇÃO ANTIRRACISTA – que se faz assim o chicote que se arremete sobre o corpo inteiro do livro.

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Estes médiuns e as estripulias da personalidade!

Divaldo, Gasparetto, Chico e assemelhados: entre o ser pensante e o fazer mediúnico, a necessidade sentida de dizer ao mundo que também é um espírito inteligente tanto quanto.

Um dia, Divaldo decidiu que agiria para mostrar que também pensa por si, produz por si, escreve por si. Não era só médium, apenas médium, secretário de outrem. Foi quando se abriram as portas do inferno? Ou as do céu?

Divaldo, Gasparetto e Chico: médium também pensa.

Ele nunca foi apenas médium. Nunca! Mas o viam – e ainda o vêm – muito mais como tal, de maneira que isso o marca. Até que o incômodo emergiu em formas explícitas de manifestação individual. Passou a expor seus próprios e muitas vezes nada atraentes pensamentos nas tribunas e nas páginas de jornais. Repito, o seu pensamento. Mas aí entra a provocação: quem acredita que é o mesmo médium, o médium de sempre que fala levanta a mão.

Malgrado seu, nem assim boa parte (grande parte, a maior parte?) de fiéis seguidores alcança o desejo dele. Aplausos constrangidos ou frenéticos continuam a soar vindos da plateia sonhadora dos auditórios invejosamente repletos. O homem quer falar sem a roupagem do médium: gente, sou eu, vocês não me vêm? Eu também penso, eu também sou espírito e muito inteligente. Por favor.

Isso já havia ocorrido com outros médiuns. Lá atrás, não muito lá atrás, com Luiz Antonio Gasparetto, de trajetória ímpar no campo das artes plásticas mediúnicas. Gasparetto ganhou o mundo, foi visto e revisto em toda a Europa, especialmente após o programa da BBC de Londres “Renoir, é você?”, reprisado inúmeras vezes.

Psicólogo, de personalidade forte, Gasparetto mostrou-se médium muito jovem ainda. A mãe, Zíbia, ascendeu também à mediunidade e como tal fez-se vista pela tribuna da Federação paulista e por livros que se multiplicariam. Gasparetto em projeção não demorou a ultrapassá-la. Viagens internacionais constantes e apresentações em território brasileiro permanentes romperam barreiras do preconceito e da descrença. Eram os espíritos os maiores responsáveis, sempre eles. Gasparetto um dia também rompeu! Foi como se passasse a gritar um grito quase sem eco: gente, eu penso; eu também sou gente! Posso ser eu comigo mesmo, sem eles. (mais…)

CPDoc cede ao CCDPE-ECM arquivos de veículos de imprensa

Entrega de 55 coleções encadernadas foi feita no dia 19 de novembro último, na sede da instituição no bairro de Indianópolis em São Paulo.

Colecionados ao longo dos anos, um acervo que reúne exemplares de diversos jornais e revistas espíritas, vários deles já extintos, foram cedidos ao Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo, instituição criada a partir de iniciativa do saudoso pesquisador Eduardo Carvalho Monteiro e que hoje leva o seu nome. São veículos da imprensa doutrinária não apenas do Brasil, como também de outros países.

A instituição fica localizada em São Paulo, no bairro de Indianópolis, em sede própria, sob a presidência de Julia Nezu, que é também ex-presidente da USE-SP, e vem realizando importante trabalho de conservação e organização de diversos acervos, o primeiro dos quais foi o de Eduardo Carvalho Monteiro, mas que conta na atualidade com outros mais, como o de Hermínio Miranda, cedido pela família do conhecido escritor (mais…)

Grãos escolhidos na peneira do tempo


CONVERSANDO SOBRE EDER FAVARO


Ao invisível cabe o condão de desafiar o indivíduo com certa permanência, como ocorre quando alguém muito próximo dentre os próximos parte. Mesmo que haja anunciado com antecedência a possibilidade dessa partida, o momento em que a morte ocorre surge como águas precipitadas na cachoeira da vida.

Eder Favaro ao centro, Marcus Vinicius Ferraz Pacheco à esquerda e Wilson Longubuco à direita. Essa foi a primeira diretoria da ABRADE, sucessora da ABRAJEE, com Eder vice-presidente.

Viajávamos de automóvel para Bauru com o Eder Favaro e eu sentados no banco de trás e o Saulo Wilson dirigindo. Uma viagem de algumas horas desde São Paulo, mas que transcorria plenamente agradável, em especial pela contagiante capacidade de divertir do Eder e suas histórias, tendo por fundo o movimento espírita brasileiro, quase sempre. Fatos, personagens e situações inusitadas formavam o cenário das narrativas feitas com gosto e muito riso.

Conheci o Eder Favaro em 1972 no salão Bezerra de Menezes do antigo prédio da Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP) da rua Maria Paula, na capital paulista. Deveria ele apresentar algumas aulas de caráter histórico sobre a vida de Jesus e eu, aluno, o observava com muita curiosidade. Falava sentado e utilizava-se de um vigor fonético pouco visto, de uma seriedade inquestionável, mas também introduzia alguns fatos pitorescos na narrativa sempre muito clara, o que descontraía o ambiente e fazia rir a muitos. Eder foi, talvez, o primeiro orador espírita, dos que assisti até então, a me despertar para o uso de bibliografia fora dos livros espíritas. Marcou-me muito aquela tarde de sábado. Eu tinha apenas 23 anos incompletos e ele já quase 42. Eu iniciante na doutrina e ele a meio caminho da vida, pouco menos. (mais…)

O pensamento hegemônico que ata, enlaça e agrada. E o consolo que submete

A concertação de uma Religião Espírita atende a conveniências humanas, assim como a refutação da existência dessa mesma Religião Espírita. Ambos os que se debatem nesse meio discursivo pró e contra se apoiam em Allan Kardec, mas há uma diferença fundamental a favor daqueles que combatem a ideia da Religião Espírita, ou seja, estes contam com afirmação peremptória, pública e verbal de Kardec, que deixou patente em todas as ocasiões a que se referiu ao assunto que não havia espaço para uma afirmação de que o espiritismo é religião. Mesmo quando, em seu famoso discurso de 1868, constante da Revista Espírita, ele toma de volta o assunto, o faz na direção de uma reafirmação da não religião, ao abrir portas para uma possível religião da fraternidade se este fosse o entendimento e desejo. Ainda aí, pois, o sentido ou significado de religião constituída e organizada estava sendo repelido, da mesma maneira que o foi quando, em documento republicado já no século XX, dando a entender que buscava criar a religião da solidariedade, Kardec põem pá de cal na questão ao reafirmar que sua opinião sobre a questão se mantinha inalterada. (mais…)

Conselho da FEB aprova a alienação dos imóveis do Museu Espírita de São Paulo

Assembleia virtual desta 2ª feira, 15 de novembro, com apenas um voto contrário dentre os quase 60 votantes (alguns por procuração) decidiu pela aprovação da venda dos prédios. Perri, com apoio do CCDPE, tentou evitar a decisão, mas foi ignorado.

O prédio principal do Museu, fechado há alguns anos, está no coração do conhecido bairro paulistano da Lapa.

A situação estava decidida antes da assembleia ser instalada: os atuais dirigentes da FEB se haviam determinado a vender alguns imóveis recebidos em doação pela entidade a fim de fazer frente à sua situação econômico-financeira e a assembleia convocada para deliberar sobre o assunto foi mera formalidade. Prova disso é que o Edital de convocação, para cumprir a lei, trazia apenas a informação geral de discussão e aprovação de alienação de alguns imóveis, sem especificá-los. A indicação desses imóveis só foi veiculada dois ou três dias antes, com um adendo ao edital, quando se tomou conhecimento de que os prédios doados, junto com o acervo, pelo Museu Espírita de São Paulo eram os mais destacados entre eles.

Durante a assembleia tomou-se conhecimento, também, de que já há tratativas ou perspectiva de negociação dos imóveis com uma construtora interessada em levantar no local (mais…)

FEB decide nesta segunda-feira em assembleia a venda da sede do Museu Espírita

Recebido em doação do fundador, museu que a FEB deveria preservar como patrimônio do espiritismo poderá ter uma de suas partes importantes transformadas em moeda, perdendo, assim sua principal destinação.

Acima, a recepção do Museu. À direita, um dos ambientes dedicados a Allan Kardec. (Ver correção ao final da notícia.)

 

A notícia é verdadeira: a Federação Espírita Brasileira, FEB, discutirá nesta segunda-feira, dia 15 de novembro de 2021, a venda (alienação) de alguns de seus prédios, entre eles a sede do Museu Espírita na Capital paulista. A assembleia convocada em caráter extraordinário será realizada no modo virtual e tem o propósito de autorização de venda de parte do patrimônio físico da centenária instituição.

A notícia foi dada em primeira mão pelo ex-presidente da FEB, Antonio Cesar Perri de Carvalho e foi confirmada por documento veiculado entre os membros do Conselho, (mais…)