Dia: 4 de abril de 2018

Os guardiães dos apriscos do templo

Federação Espírita de Goiás: orador chega para fazer palestra e encontra as portas fechadas. Indignados, promotores do evento recorrem a outra instituição para manter o programa. Fatos revelam covardia, desrespeito e tudo o mais que a boa moral condena.

A fraqueza humana é capaz de conduzir o indivíduo às mais desprezíveis ações. Debalde o homem desse jaez lutará para mostrar-se digno da moral espírita, porque não conseguirá superar as próprias imperfeições enquanto não se oferecer à práxis cotidiana com a coragem dos estoicos. O homem fraco e desprezível, envolto pela embalagem do espiritismo e no comando das atividades espíritas, poderá ser luzidia e colorida imagem, mas nunca será um verdadeiro homem de bem.

Minha indignação provém da minha incapacidade de assistir aos atos indignos praticados por seres humanos, com acento ainda mais agudo quando esses homens coexistem no mesmo meio doutrinário no qual me coloco. Admiravelmente, o invejável Leon Denis afirma que a tudo podemos suportar desde que não sejam ultrapassados os limites da dignidade humana. A dignidade é o pórtico humano do inatacável, a muralha inexpugnável do direito e da vida. Ao contrário da realidade constatada por Herculano Pires na frase que dá título a este artigo. Sim, o inesquecível amigo não fala, na frase, de um passado que o espiritismo ajuda a superar, mas de uma realidade que se mostra exatamente no contexto social de hoje, onde muitos espíritas operam e farisaicamente sorriem. (mais…)

Significados e significantes importam. Mas as significações são definitivas

Se um significante jamais oferece apenas um significado possível, porque isso seria a literalidade aprisionante dos sentidos, então, o que Chico Xavier quis dizer com a expressão “o telefone só toca de lá para cá”?

Vê-se aqui e ali a repetição da frase expressa pelo médium mineiro como uma condenação explícita e direta ao desejo de chamar a atenção de espíritos e obter deles mensagens, isto é, conselhos, informações, desejos e conhecimento de seus conflitos no contexto da vida em que se situam. Em uma palavra: condenação da evocação dos espíritos, pois, dizem, se há quem possa decidir se tem ou não condições de dialogar com os encarnados seriam eles, os desencarnados. Oh Deus, quanto engano se comete quando a literalidade aprisiona a significação!

Quando isso ocorre, ou seja, quando se afirma que Chico proíbe que se façam evocações se está atribuindo ao significante – “o telefone toca de lá para cá” – apenas um e único significado que se pode, em mau português, chamar de significado semântico. Ora, digam-me, senhores, qual é o significante que possui um único e preciso significado? Que não se oferece às significações de tantas quantas mentes dele façam uso?

Ah, sim, há médiuns que fazem promessas de ouvir os espíritos que a pessoa deseja; há pessoas que querem ouvir dos espíritos coisas que eles, espíritos, não sabem; há lugares que estranhamente ensinam como os médiuns entram em contato com espíritos familiares; há outras pessoas que querem resolver o vazio da separação de filhos, maridos e esposas mortas conversando com eles sobre, talvez, as miudezas da vida familiar. Sim, há tudo isso e muito mais perfeitamente criticável. Ora, nenhuma definição literal resolverá o problema que pertence ao campo da educação, então, vamos fazer o esforço de educar para que a significação possa substituir a literalidade dos sentidos e, assim, resolver os problemas da individualidade diante da vida. (mais…)

USE-70, caminhos e desafios

Em dezembro de 2015, publiquei aqui em meu blog uma análise do livro dos 50 anos da USE, com alguns apontamentos necessários. Agora, quero recuperar certos fatos que me parecem importantes por sua função interligadora na história do Espiritismo. Refiro-me às fontes das ideias que deram origem ao desejo de organizar estruturalmente o movimento em torno da doutrina espírita na sociedade, ideias que desembocaram na fundação de associações federativas, no Brasil, especialmente, mas também no Exterior.

Ninguém há de negar que o Projeto 1868, elaborado e publicado por Allan Kardec na revista espírita de dezembro daquele ano, constitui-se em fonte de orientação para a formação de sociedades espíritas do tipo centros ou federativas. Ali estão as reflexões e as sugestões que o codificador oferece, dentro das preocupações que o dominavam em relação ao futuro do Espiritismo. Kardec apresenta elementos gerais, mas também chega a detalhar minúcias dos procedimentos no entendimento de que a forma muitas vezes se torna necessária à concretização efetiva do conteúdo. (mais…)