Mês: outubro 2013

Herculano Pires e a visão integrada da vida

Herculano“Tudo no mundo nos ensina duas lições fundamentais: a da evolução e a da imortalidade.”

 

No dia 25 de setembro teve início o período do Centenário de Nascimento de J. Herculano Pires, talvez, o mais destacado pensador do Espiritismo brasileiro, pensador este que registrou, de modo indiscutível, suas ideias em obras que marcaram sua época e continuam alimentando o desejo do conhecimento de muitos estudiosos, no Brasil e no mundo.

Chico Xavier descortina a importância de Herculano Pires para o Espiritismo com a imortal frase que o distingue como “o metro que melhor mediu Kardec”.

Humberto Mariotti, pensador argentino, visualiza a dimensão do pensamento de Herculano ao apontar para a existência de uma “filosofia piresniana” totalmente integrada à filosofia do francês Allan Kardec.

Mario Graciotti, figura destacada do mundo literário brasileiro e fundador do famoso Clube do Livro de tantas publicações gloriosas, vendo-se diante de uma figura magnífica, pergunta: “De que distância, de que regiões, de que épocas virá esse espírito, que se instalou na engrenagem somática de um dos mais curiosos fenômenos intelectuais do Brasil nascente, o poeta, o jornalista, o escritor, filósofo Herculano Pires?”

Jornalista, filósofo, romancista, poeta e professor, foi nomeado pelo médium e escritor Jorge Rizzini, seu amigo por quase trinta anos, como o “apóstolo de Kardec”, na biografia extraordinária que escreveu sobre J. Herculano Pires.

A imensa e farta estante de Herculano Pires inclui mais de oitenta livros dos mais variados temas. Romances premiados e reconhecidos pelo mundo literário, estudos sociológicos, trabalhos científicos, brochuras sobre casos da mediunidade de cura, reflexões sobre a Pedagogia Espírita, análise da prática dos centros espíritas, estudo do perfil de Chico Xavier e tantos outros que lhe valeram o reconhecimento público.

Tudo sem falar na elaboração, ainda em andamento, da relação imensa de textos escritos, programas radiofônicos apresentados que a Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires organiza e divulga.

Orientou a publicação de obras de valor, como a coleção da Revista Espírita, traduzida no Brasil primeiramente pelo poliglota Julio Abreu Filho e prefaciada por Herculano. E ele mesmo cuidou de traduzir as obras principais da codificação espírita, que são publicadas por diversas editoras.

Apoiou o trabalho editorial do incansável e ainda pouco reconhecido editor Frederico Gianinni, na Edicel em São Paulo, e com ele publicou os primeiros números de uma revista sobre educação, quase toda ela escrita pelo próprio Herculano.

Homem de intensa atividade, dizia-se um grafomaníaco casado também com a máquina de escrever. De vida simples, era calmo e carinhoso ao mesmo tempo em que dono de uma força e coragem que o levava à defesa da verdade sem constrangimentos e sem tergiversação.

A fundação Herculano Pires inicia agora o programa de comemorações do centenário de seu nascimento (1914-2014), com palestras, publicações e acontecimentos que se desdobrarão até setembro de 2014, quando o centenário se completa.

Esse fato merece o apoio do Brasil inteiro. Assim como Herculano diz que a obra de Kardec é, paradoxalmente, muito publicada mas ainda pouco conhecida em sua dimensão e conteúdo, a obra de Herculano, o mais destacado intérprete de Kardec, é lida, conhecida e pensada muito menos do que deveria, mas está aí, pronta para ser descortinada como fonte de conhecimento que estimula, liberta e prepara o ser no seu caminho de conquistas e evolução imortal.

Crônica do centenário

selo_encart_wwwNós precisamos, é bom reconhecer. Nós precisamos de pessoas com lucidez. Não apenas lucidez, mas lucidez maior que nossa própria. Nós precisamos de homens que sejam capazes de descortinar horizontes, aqueles mesmos horizontes que não alcançamos apesar dos esforços, dos anseios, dos desejos.

Nós precisamos da autoridade, também é bom reconhecer. Nós precisamos da autoridade natural, que naturalmente se coloca e naturalmente se faz reconhecer. Nós precisamos de homens capazes de liderar com o pleno conhecimento da liberdade que permeia a experiência humana num planeta repleto de conflitos.

Nós precisamos, nunca será demais reconhecer. Nós precisamos de pessoas de bom-senso. Não apenas de bom-senso, mas daquele bom-senso que nos toca de imediato e nos leva a refletir se o nosso bom-senso é bom. Nós precisamos de homens que saibam tocar no fio de Ariadne e segui-lo, media por medida, até o porta do saber.

Nós precisamos da coragem, indiscutivelmente. Nós precisamos da coragem que nos conduza ao rompimento dos diques erguidos pela mentira. Nós precisamos de homens corajosos que possam demonstrar a força que nos falta e lhes sobra na condução da jornada de libertação de mentes e corações ansiosos pela vitória.

Nós precisamos dos sonhos. Nós precisamos de pessoas que sonhem o nosso sonho, o sonho que nos alimenta as noites bem dormidas e os dias descortinados. Nós precisamos de homens que reconhecem o valor da esperança na formação do espírito que caminha sobre as águas de um mundo já bastante líquido.

Nós…

Nós precisamos do Herculano Pires que se foi e nunca partiu. Nós precisamos daquele homem que flutua nas páginas impressas de brochuras e encadernações, que escorre num farfalhar sereno sobre pedras e leitos arenosos, a nos indicar o ponto de luz que além ilumina e aquece o ser inquieto, multiexistencial, em experiências contínuas.

Nós (finalmente?) precisamos da certeza. Não da quase certeza suspensa no arame do equilibrista, ameaçada, tensa. Nós precisamos da certeza do ser imortal que sussurra como leve sopro nos ouvidos do homem a comunicar-lhe boas novas, novas e boas certezas sem negar a sua assinatura.

Nós precisamos, e como, de Herculano Pires.