Dia: 7 de outubro de 2013

Na corda bamba

livros_promo[1]Eugenio Lara em Breve Ensaio sobre o Humanismo Espírita enfrenta o desafio de refletir sobre o humanismo com o objetivo de demonstrar suas relações com o espiritismo e o próprio título que escolheu para o livro já é uma antecipação de sua conclusão: há um humanismo espírita. O que o título esconde – e isso o leitor terá de encontrar – é o caminho seguido para alcançar o termo.

O estudioso do espiritismo poderá argumentar que não poderia ser diferente, e afirmar que o espiritismo é a doutrina espiritualista de visão humanista de maior acento em nossos tempos, com o que o próprio autor concordará, sem dúvida.

É possível observar o estudo do Eugenio Lara sob diversos pontos de vista, pois apresenta um conteúdo rico, e discuti-lo, passo a passo, para provocar ou desafiar. Eugenio é polemista de boa cepa…

Por exemplo, suas palavras iniciais questionam certa visão do laicismo predominante em alguns círculos espíritas: “Normalmente, aqueles que se opõem à ideia de um Espiritismo de conotação laica associam, de modo ingênuo e equivocado, a laicidade ao antirreligiosismo, ao ateísmo…”.

Com isso, reafirma sua adesão ao pensamento laico ao mesmo tempo em que: 1) refuta uma postura que há muito o incomoda; 2) antecipa as relações do laicismo com o humanismo; 3) estabelece que “a laicidade no Espiritismo não está exclusivamente associada à separação entre o Estado e a Religião. Mas sim, fundamentalmente, ao seu caráter humanista…”.

O incômodo vem de longe e data do tempo em que os espíritas useanos laicos romperam politicamente com os espíritas useanos religiosos e, com a campanha nas ruas, foram acusados de pretender excluir Jesus do espiritismo, dando origem a algo que se transformaria em mito a partir do instante em que extrapolou os limites da USE e estendeu-se ao movimento espírita como um todo, onde os espíritas religiosos preponderam.

De lá para cá, estabeleceu-se uma clara divisão, ficando os laicos de um lado e os religiosos de outro. Se do ponto de vista da fraternidade humana o fato foi negativo, do ponto de vista do conhecimento houve ganhos, como prova agora este estudo sobre o humanismo, que vem na esteira de uma outra disposição presente entre os espíritas laicos, que Eugenio Lara não discute mas deixa implícita: a defesa do livre-pensar, este, também, um ganho importante.

Como é que o autor, então, chega a isto que se pode chamar de razão do estudo? O caminho por ele escolhido foi o de atualizar o estado da arte do humanismo, quando, então, tem a oportunidade de apresentar, embora ligeiros, estudos sobre pensadores pouco conhecidos, como Pico della Mirândola, e sobre outros mais destacados, dos quais extrai conteúdos significativos, até alcançar os tempos atuais e aqueles que pensam modernamente o humanismo.

Para haver um humanismo espírita era preciso que houvesse um Allan Kardec humanista, daí porque Eugenio Lara abre um dos mais interessantes capítulos de seu livro dedicado ao pedagogo Rivail e sua obra. A riqueza desse capítulo aparece tanto nas teses, pacíficas umas e polêmicas outras, quanto na forma de abordagem, onde, mais do que em qualquer outra parte do livro, o autor de fato se equilibra na corda bamba.

É pacífico quando afirma que “o Humanismo Espírita situa-se numa via alternativa entre o niilismo da concepção materialista e o dogmatismo da ideologia judaico-cristã”, mas ousado quando argumenta que “Allan Kardec evitou o confronto, a ruptura radical com a Igreja. Preferiu seguir o caminho da alteridade, do profundo respeito às tradições cristãs”. Ousadia de quem sabe que tem a oposição de autores como Herculano Pires, com quem Eugenio se alinha em aspectos outros, como, por exemplo, na tese do ser interexistencial que Herculano defende.

O livro é “breve”, mas tem um potencial extenso de provocar reflexões porque não deixa de colocar ideias e sugestões nos capítulos finais, nem se nega a tirar conclusões onde muitos prefeririam a maciez do estilo.

Médiuns, mitos, imagens e… Divaldo (ou o inverso?)

Divaldo Franco com Nazareno Tourinho e este autor, no congresso espírita de Brasília.
Divaldo Franco com Nazareno Tourinho e este autor, no congresso espírita de Brasília.

No tempo das imagens dominantes, os heróis são midiáticos, ligeiros, temporais. Por isso, quando estamos diante de heróis míticos, não midiáticos, que receberam o convite, enfrentaram as provas e retornaram ao ambiente para praticar a coragem, ficamos confusos.

Eles se misturam, os midiáticos e os heróis, e apesar da predominância dos midiáticos em número e em profusão, difícil é localizar os heróis, e mais desafiador ainda é compreender o herói, na sua dupla realidade de mito e ser humano.

 

Vamos, pois, fazer uma viagem.

Havia grande expectativa no ar naquela tarde de domingo. Todas as providências para que a quantidade de pessoas não extrapolasse o número de lugares do auditório Bezerra de Menezes foram severamente tomadas. Por onde passava, o orador atraía muita gente e, portanto, justificava as medidas tomadas.

Divaldo chegou na hora marcada, assumiu a tribuna e fez uma alegre palestra, em lugar das famosas oratórias. Melhor dizendo, substituiu os monólogos arrebatadores por um diálogo vivo.

Os temores cessaram – nem público excessivo, apenas dirigentes convidados; nem temas genéricos, mas assuntos pontuais, do dia-a-dia dos centros espíritas. Uma troca, no melhor estilo proposto por Herculano Pires.

Pela primeira vez, vi Divaldo descontraído, em público. Um humor agradável entremeou sua fala de experiências e fatos. Ouviu, expôs, respondeu durante duas horas que pareceram minutos. Era 1972 e o local, a Federação Espírita do Estado de São Paulo, na antiga sede da Rua Maria Paula.

Depois disso, esbarramo-nos, aqui e ali, vezes inúmeras.

Seis anos mais tarde, uma entrevista.

Descemos do carro, de retorno do Aeroporto de Congonhas onde fui com o Miguel buscá-lo, por volta das 10 horas da manhã. Divaldo, atrasado por culpa do voo, pediu alguns minutos mais para se banhar.

A espaçosa sala da residência do Miguel de Jesus em Santo André reunia, além do casal anfitrião, eu, Raymundo Espelho e Wilson Francisco. A amenidade das conversas ajudou a passar o tempo, mas não aplacou a ansiedade pelos compromissos que nos esperavam ainda, naquele dia.

Pouco mais de trinta minutos depois, Divaldo surgiu no ambiente com toda a tranquilidade baiana, caminhou em nossa direção e sem mais rodeios afirmou:

– Cairbar Schutel está me dizendo que apoia ao trabalho de vocês. Ele tem muito interesse no progresso do Correio Fraterno do ABC e da editora. Diz que tudo vai dar certo.

Surpreendeu-me, não a revelação, mas o fato de vir pela boca do Divaldo Franco. Alguns meses antes, tínhamos recebido a mesma informação, também de modo espontâneo, por outro médium e, curiosamente, então, estávamos ao lado do leito de um dos nossos companheiros, ali presente, que convalescia de uma doença. Sentado e conversando, de repente o médium-visitante silencia, seu olhar se dirige a um ponto qualquer do quarto e ele diz:

– Tem um espírito aqui dizendo que o trabalho de vocês vai dar certo e que devem seguir em frente com confiança.

Espíritos e médiuns diferentes, afirmações semelhantes.

Gravadores ligados, iniciamos a entrevista com a franqueza combinada e aceita pelo tribuno.

– Divaldo, reclamam muito que seu texto mediúnico é difícil de entender, você concorda?

– Herculano Pires apontou plágios seus, como responde a isso?

– Dizem que você faz suas oratórias públicas mediunizado, é verdade?

– Qual é a sua opinião sobre Roustaing e o corpo fluídico?

As questões seguiram por esse caminho pontuado de conflitos e temas mais gerais. Divaldo respondeu uma por uma as perguntas, sem nunca se alterar, mesmo quando os assuntos resvalavam pelos aspectos morais ou pessoais, ou diziam respeito a temas doutrinários controversos.

É difícil entrevistar Divaldo e arrancar dele respostas em linguagem coloquial. Pior ainda é ler entrevistas de Divaldo com perguntas prontas e respostas dadas por escrito. A linguagem aí costuma reproduzir o tom extremamente formal do indivíduo preocupado muito mais em ser cuidadoso que objetivo e espontâneo. Jornalista não gosta disso, não.

Nas duas ocasiões citadas, Divaldo esteve menos preso, por isso, mais leve.

Em 1986, Divaldo é o orador da cerimônia de abertura do IX Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas. Combinamos com ele, dois anos antes, a data e o tema. E mantivemos contato permanente, até o evento.

O auditório do Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, está  repleto. Divaldo chega acompanhado de Miguel de Jesus e se junta a mim e ao Francisco Thiesen, então presidente da FEB, para um café.

Noto um Divaldo preocupado, que não demora a revelar sua estranheza com o tema da palestra. Diz ter preparado outro assunto.

– O tema foi objeto de nossas correspondências – digo-lhe, na tentativa de fazê-lo recordar-se. – Fique, no entanto, à vontade – tranquilizo-o.

Ao assumir a tribuna, Divaldo utiliza apenas os primeiros quinze minutos para tratar do tema anunciado: a figura admirável de Cairbar Schutel. A memória não o levou mais longe. Em seguida, passa, em seu estilo eloquente, ao assunto para o qual se havia preparado.

Tempos depois, revejo-o em São José do Rio Preto, no Entrade, Encontro de Trabalhadores e Dirigentes Espíritas promovido pelo Grupo Espírita Bezerra de Menezes, então, uma instituição sem vínculos federativos.

Divaldo se encanta com um jovem palestrante que o antecede e confidencia-me:

– Como ele é tranquilo ao falar em público. Acho admirável isso, eu não consigo ser assim.

Surpresa?

Todo ser humano tem duas faces visíveis: a da realidade, um pouco mais restrita, e a da imagem, mais desafiadora. A primeira, acessível a poucos, a segunda, escondendo mais do que mostrando, ao contrário do que muitos imaginam.

É impossível evitar a construção do mito naqueles que alcançam projeção social por seus feitos e tão impossível quanto compreender o cotidiano do homem mitificado através apenas de sua imagem.

Os mitos midiáticos são diferentes; nascem sem raízes.

Aécio, amigo de juventude e quase materialista, interpelou-me, certa vez, em tom crítico, sobre a rotulação excessiva do médium Chico Xavier. Referia-se ao mito em construção, mas estava incomodado com a imagem.

Os espinhos da realidade, por entre os quais todos, muito ou pouco, caminham, parecem ferir menos quando dialogamos com o mito ou com a imagem, pois mito e imagem, por sua natureza, distanciam-nos momentaneamente da realidade para nos acomodar no terreno do sonho, das expectativas e das possibilidades.

O homem se faz médium; os homens constroem o mito. A vida os acolhe.

Seremos todos espíritas? Da utopia ao sonho

Por um bom tempo, fiquei raciocinando se o subtítulo – da utopia ao sonho – não deveria estar invertido – do sonho à utopia. Felizmente, o tempo não se alongou muito, a ponto de inviabilizar a construção deste trabalho. A conclusão a que cheguei é que, afinal, pouco importa a ordem dos fatores, uma vez que, segundo parece, o sonho de tornar a humanidade espírita sequer poderia ser classificado como um sonho possível e não alcançaria também o nível da utopia. Poderíamos vê-lo simplesmente como desejo, plano em que a vontade de tornar o próximo detentor das mesmas crenças que nos alimentam se torna possível e, de uma certa forma, compreensível (mas não natural). Em alguns casos, o “sonho” alcança o estágio de pesadelo, é verdade, mas é quando o indivíduo já está ultrapassando o tempo da racionalidade e penetrando nos domínios do fanatismo, onde a lógica se faz difusa e a ética obedece à ótica.

Se tomarmos a utopia como a imaginou Thomas Morus, entre os diversos sentidos que daí adviriam poderíamos pensar num planeta de paz e compreensão, respeito e tolerância, onde as interações humanas se dariam no plano da ética absoluta. Apesar do reducionismo dessa colocação, diante da complexidade que preside a sociedade e as relações entre os seres humanos, complexidade que se aprofunda quando nós, espíritas, incluímos aí o mundo invisível como complemento da sociedade humana, apesar desse reducionismo, dizemos, poderíamos ter em vista um mundo em que toda a sociedade tenha conseguido solucionar não apenas seus problemas hoje considerados básicos – educação, habitação, saúde, segurança etc. – mas também aqueles advindos das profundas diferenças entre os indivíduos, nos planos intelectual e moral, e entre as sociedades. Entraríamos, por exemplo, no nível idealizado por Kardec, do predomínio intelecto-moral? Digamos, a princípio, que até poderíamos considerar que sim. Mas, surge a pergunta: seria de fato isto o que se pretende, quando se empregam esforços, quando uma certa parcela de adeptos do Espiritismo direciona ações para ver implantada a sua vontade de tornar espíritas a todos os homens? Parece-nos ser, este, um bom motivo para estudos, análises e debates.

As discussões em torno da ideia retroalimentada (indivíduo-Centro Espírita-federativas-indivíduo) de uma conquista geral de mentes e corações para o Espiritismo contemplam uma gama considerável de sentidos que podem ser explorados em seus conteúdos diversos. Embora não tenha sido objeto de uma pesquisa consistente – e o mereceria – a questão alcança não apenas o campo da comunicação, em que uma insistente parcela de adeptos tenta marcar presença em considerações teórico-críticas e mesmo uma ação pela busca de meios de comunicação de massa, mas atinge também o meio privilegiado da prática espírita – o Centro – fazendo com que muitos dos esforços que ali se realizam sejam canalizados para o convencimento do adepto à ação.

Vale, portanto, questionar as causas e as possíveis consequências desse esforço, deixando um pouco de lado a ideia reducionista do proselitismo e procurando apreciar a questão em seus termos utópicos e no que ela pode conter de influência recebida, pelos indivíduos, em sua vivência em uma sociedade globalizada. Até que ponto o sonho de uma mundialização massiva do Espiritismo responde a um incentivo presente na própria realidade dos meios de comunicação, que exploram a competição e a tornam até certo ponto uma moda a ser seguida? Quanto existe de intenção de supremacia e dominação na vocação dos adeptos de tornar a sua doutrina hegemônica? Até que ponto o estímulo dado nos centros espíritas reflete a influência do meio social e se torna outra influência a reforçar o sentido competitivo explorado pela mídia através de mensagens persuasivas muitas vezes irresistíveis?

Nosso tema tenta responder de alguma maneira a essas questões, tomando por base alguns estudos atuais no campo da sociologia da comunicação, procurando interpretar a idéia de um conhecimento libertador dentro de uma sociedade contraditória, incentivadora da potencialidade individual e ao mesmo tempo limitadora dessas potencialidades. Buscamos, também, refletir sobre o espaço espírita do Centro, onde as mensagens transitam dentro de um modelo comunicativo que considera a emissão, sem quase sempre analisar o próprio emissor no contexto em que está inserido, e o receptor, em suas possibilidades de criar e recriar em cima das próprias mensagens.

A gênese do mito e as influências das mensagens

As atitudes voltadas ao convencimento do outro para as nossas ideias e crenças são comuns e, talvez, rotineiras na sociedade. Se há alguma coisa que poderíamos qualificar como natural parece ser essa. As crenças políticas, econômicas, ideológicas, religiosas etc., que perpassam os seres humanos em seus mais variados contextos assumem na hierarquia dos valores internos uma posição destacada, pois compõem aquilo que poderia ser denominado cultura da segurança. Munido desses valores, o indivíduo se sente em condições de um agir em sociedade suficientemente satisfatório, sustentando-se na convicção de que possui um mínimo necessário para sua sobrevivência psíquica, para conquistar outros espaços e concretizar novas realizações. Daí, portanto, sobrevir-lhe o desejo de convencer o outro para suas crenças e ideias. Conquistar aliados reforça a crença, dá-lhe ainda mais substância, confere validade ao esforço de ampliação dos próprios domínios.

Ao mesmo tempo, porém, que este mundo internalizado de valores confere segurança e sustenta o indivíduo em sua vida de relação, esconde os perigos existentes nas próprias condições de sobrevivência psíquica oferecidas pela sociedade. “Nada é estável – afirma Thompson – nada é fixo, e não há entidade separada da qual estas imagens são o reflexo: na idade de saturação da mídia, as múltiplas e mutáveis imagens são o self”.[1]

O mundo das imagens oscilantes, marca registrada dos tempos atuais, é também o dos mitos construídos e das ideologias veiculadas através de mensagens persuasivas. Mitos e ideologias se misturam identificados e muitas vezes concorrem para o mesmo fim. O sonho de um Espiritismo universal está representado pelo “mito da humanidade espírita” construído pelo adepto cujos valores se firmaram internamente.

Sem a pretensão de analisar criticamente a própria natureza do mito, entendemos que ele parte do plano individual para o coletivo ou social e se transforma no mito de uma comunidade, carregando consigo a mensagem com a qual a coletividade se comunica. O mito da humanidade espírita, assim, é uma maneira como a comunidade se expressa em determinados momentos, para dizer que acredita naquilo que difunde, mas o faz de forma enfática, implícita: “o mundo ficará melhor”, se os indivíduos se tornarem espíritas; “a felicidade estará mais próxima” com as práticas espíritas disseminadas pelos quatro cantos do planeta. Implica acreditar que o Espiritismo é a própria condição (única?) para um mundo mais justo e fraterno. Mas implica também entender que ele é melhor que as outras doutrinas e nesse ponto torna-se inevitável uma comparação, uma vez que “ser melhor” é estar à frente de, possuir mais condição que, o que, em certa medida, remete ao conteúdo da doutrina mas, também, à forma como esta se expressa através das práticas. O mito, portanto, tende a fortalecer a crença e ao mesmo tempo em que fortalece a crença confere um poder maior à comunidade: quando difunde o mito o indivíduo sobrevive e se realiza; se o mito persuade o outro, de certa maneira a comunidade cresce quantitativa e, em princípio, qualitativamente. A difusão do mito é, então, por todos os meios vantajosa.

Mas o mundo pós-moderno das imagens oscilantes tem as suas ciladas. Sua ambigüidade esconde o lado, muitas vezes perverso, da padronização de idéias, em que indivíduos e comunidades confusos nem sempre discernem a gênese dos conteúdos que defendem. Aqui, há muito a se analisar. É da característica da sociedade contemporânea explorar a idéia de que a competição pertence à natureza do homem e contém mais aspectos positivos que negativos. O estímulo à competição aparece subjacente em mensagens que circulam nas diferentes mídias, e nem sempre surge dissimulado. Somos todos persuadidos de que competir faz parte do cotidiano e essa competição está presente na moda, nos esportes, na literatura e até mesmo nos lares, como se fizesse parte do ser e como se o ser só pudesse se realizar através das vitórias que tornam visível para a sociedade a sua identidade. Também por isso, essa identidade se faz mutante e instável. Em contexto dessa ordem, o mito da superioridade alcança o adepto das diversas doutrinas como estímulo à competição umas com as outras, competição que recebe ainda outros estímulos através do conteúdo das próprias doutrinas. Parece claro que o Espiritismo não foge a esta regra, embora seja preciso reconhecer que estes conteúdos estimulantes nem sempre tenham sido construídos para funcionar como elementos direcionadores de uma competição real.

É de se perguntar, por exemplo, se quando Emmanuel (Espírito) afirma que a melhor contribuição que se pode dar ao Espiritismo é a sua própria divulgação não estaria, em certa medida, oferecendo um estímulo que resulta em reforço à competição em determinado nível? E se isso não se repete quando os próprios Espíritos responsáveis pelas obras ditas básicas colocam o Espiritismo como o ápice até aqui de um processo evolutivo das doutrinas judaico-cristãs? Não se está de modo algum afirmando que haja uma intenção de estímulo competitivo nestas mensagens, mas consideramos justo questionar se a partir delas não estão sendo construídos sentidos competitivos, nas diversas interpretações feitas em especial por lideranças reconhecidas pela própria comunidade espírita, nos seus níveis nacionais ou locais (considerando-se muito fortemente o local privilegiado das práticas – o Centro Espírita).

Caberia questionar se o indivíduo espírita estaria em condições de sobrepor-se ao meio através de um esforço que refutasse o sentido da competição, antepondo-se assim às pressões que sobre ele as mensagens exercem. A resposta seria sim e não. Ou seja, negar simplesmente essa possibilidade seria conferir plenos poderes ao social e nenhum àquele que o integra como agente das práticas sociais. A questão, contudo, é saber até que ponto ele o consegue. Entra aí uma consideração relativa ao processo de inclusão/exclusão do indivíduo, além de um reconhecimento de que as regras que integram os códigos sociais de uma comunidade – caso específico também da comunidade espírita – implicam em sua observância. Na medida em que o mito da humanidade espírita alcança um certo consenso, parcial, embora, na comunidade em que ele é difundido vira regra. Se os indivíduos aceitam a regra, são incluídos e se veem dessa maneira. A recusa da regra implica na sua exclusão explícita ou implícita. O processo de inclusão também considera a capacidade do indivíduo de possuir um repertório de termos próprios da doutrina para se tornar capaz de interagir no meio. A não aceitação de uma regra torna esse processo problemático e pode até inviabilizá-lo.

A competição permeando a crença

No âmbito das religiões, onde o Espiritismo está, segundo um certo consenso parcial, colocado, as competições encontram amplo espaço para proliferação. Em algumas delas, que consideram esta competição necessária, objetivamente estabelecida e a classificam até mesmo como uma guerra entre o sagrado e o profano, portanto, entre as trevas e a luz, o adepto recebe como uma obrigação (“agradável a Deus”) a incumbência de derrotar o outro através de duas medidas igualmente drásticas: (1) persuadi-lo do “erro” em que se encontra – meta primeira, que se completa com a capitulação do outro – ou então (2) deixá-lo ciente de ter “conhecido” a “palavra de Deus”, o que significa, em última instância, o próprio sinal de sua condenação futura. A ordem para essa ação está objetivamente explicitada em algumas religiões, enquanto em outras aparece implícita nos conteúdos, assim como a eleição dos “adversários”, que são definidos com clareza quase sempre, embora se modifiquem conforme os contextos e as realidades de cada época. No nível da religião, o sonho de converter toda a humanidade nem sempre se traduziu por ações subjetivas. No Ocidente, o catolicismo contém a ideia do universal e sua mais direta concorrente no Brasil dos tempos atuais tem sido a Igreja Universal do Reino de Deus. Assim, não é por acaso que a expressão “universal” concentra em si um forte estímulo aos adeptos para a competição.

A visão de mundo que cada uma dessas crenças possui e produz reforça uma certa identidade entre elas. A pergunta a responder seria se o Espiritismo resultante das práticas e dos sentidos construídos a partir da recriação da doutrina não pode ser aí também incluído? Qual é o mundo, portanto, que surgirá se o sonho de uma humanidade espírita se concretizar? Quais seriam suas características, estrutura, funcionamento? Que tipo de sociedade adviria daí? O mundo plácido, ingênuo, idealizado para o futuro pelas Testemunhas de Jeová prevê uma contemplação passiva e eterna da natureza e o bom senso nos diz que esse mundo é de improvável construção. Nele, animais e homens conviveriam em uma tal ordem de harmonia que a marca daquilo que os distinguiria seria a perfeita obediência que os animais votariam ao homem. O mito da humanidade espírita, nos seus termos objetivos, parece girar em torno das mesmas características, o que o tornaria pouco atrativo e improvável tanto quanto.

A análise do mito reserva um espaço para a problematização das profundas diferenças que marcam os indivíduos e singularizam as interações humanas. Conquanto essas diferenças sejam contempladas teoricamente no corpo da doutrina espírita, elas tendem a desaparecer em presença do mito ou até por força da construção do mito, que em si mesmo constitui uma maneira de empobrecer a teoria da evolução, não apenas porque é reducionista, mas por esconder as diferenças. Uma ética da convivência considera a diversidade de caracteres individuais, nos níveis moral e intelectual, diversidade essa que desaparece com o mito da humanidade espírita, menos por ter sido resolvida e mais pela presença de um certo romantismo.

Destaque-se ainda o conteúdo etnocêntrico do mito: tornar a humanidade espírita implica desde já uma desconsideração para com os valores culturais de cada povo e de cada sociedade. Este é um aspecto que merece aprofundamento.

Conclusão

A comunidade espírita não pode ser entendida senão como uma parcela da sociedade geral. Dessa forma, o sonho mítico que entende e (pre)tende um agir no sentido de conquistar para sua crença e suas ideias a humanidade é estimulado por elementos presentes no cotidiano social e nos conteúdos doutrinários. É justo concluir que o sonho contempla um forte anseio de poder, seja ou não para exercer qualquer tipo de dominação, uma vez que uma suposta conquista da humanidade conferiria uma condição total para o estabelecimento de rumos segundo a ideologia específica. Fora isso viável, restaria resolver uma outra questão: como se desenvolveriam no interior dessa nova sociedade, entre outras, as interações humanas, considerando que a simples percepção dos conteúdos espíritas, como tem sido exemplo as relações no interior da própria comunidade espírita, não é suficiente garantir a paz e a harmonia, um dos maiores anseios contidos no sonho. Em suma, não podendo oferecer essa sustentação também derruba a crença de que os princípios são melhores e de que o mundo ficará melhor se todos forem espíritas. Essa constatação não deve ser vista como esforço de reduzir o grau de qualidade do conteúdo doutrinário, mas como uma evidência de que, a despeito do valor reconhecido deste conteúdo, os indivíduos, como tais ou coletivamente em contextos sociais, não são suficientemente hábeis e competentes para torná-los em código eficiente de regulação das interações.

Bibliografia

BARTHES, Roland. Mitologias, 11a, Ed. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 2001.

CARONTINI, E. & PERAYA, D. O projeto semiótico, Ed. Cultrix, São Paulo, 1979.

KARDEC, Allan. O livro dos espíritos, 2a, Ed. EME, Capivari, 1997.

MARTELLI, Stefano. A religião na sociedade pós-moderna, E. Paulinas, São Paulo, 1995.

THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade, 2a, Ed. Vozes, Petrópolis, 1999.

THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna, 5a, Ed. Vozes, Petrópolis, 2000.



[1] THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade, 2a, Ed. Vozes, Petrópolis, 1999, p. 201.

Hermínio Miranda: opções temáticas em sua obra*

Hermínio corteUm dos escritores espíritas mais lidos da atualidade, também tradutor, Hermínio Correa de Miranda, nascido em 1920, tem um fôlego para pesquisas e leituras tão amplo que não seria de todo equivocado afirmar que é o escritor dos escritores. Equipara-se, talvez, neste aspecto e em certa medida a Ernesto Bozzano. Em sua obra, extensa e também densa, sobressaltam as referências bibliográficas, ao lado de suas preferências temáticas e de uma preocupação constante com as conceituações, que deseja colocar claras para melhor expressão do seu pensamento.

Contribui para isso a competente capacidade de ler em diversas línguas e uma memória privilegiada que Miranda demonstra possuir, valorizando sobremaneira o seu autodidatismo.

Tendo residido por algum tempo nos Estados Unidos, a serviço profissional, aprimorou ali não só os seus conhecimentos do inglês como também o gosto pela literatura profusa do país de Tio Sam, em especial as obras relacionadas aos temas de sua preferência.

Sem qualquer pretensão de analisar a obra completa de Miranda, podemos destacar quatro de suas opções temáticas: cristianismo (leia-se teologia), mediunidade, regressão de memória e reencarnação. Esta última, porém, parece estar muito à frente das outras, como atesta o prefaciador de um dos seus livros: “Em Doutrina Espírita, o ponto que mais o atrai é a reencarnação”.1 Mais do que isso, é também assunto frequente em praticamente toda a sua obra, pois, sempre que pode ele o introduz em reforço de seu pensamento.

Miranda não é um pesquisador do tipo Ian Stevensson ou Hernani Guimarães Andrade. Enquanto estes se preocupam com a análise dos fatos em seus detalhes comprováveis, quando trata da reencarnação Miranda se vale habitualmente de pesquisa biográfica com apoio em bibliografia consistente, em que estão presentes, inclusive, obras de história. É bem verdade que o seu livro mais denso sobre o tema – “Eu sou Camille Desmoulins” – escrito em parceria com o sujet da pesquisa, Luciano dos Anjos, conta com um outro tipo de apoio: a regressão de memória. É também verdadeiro o fato de utilizar as experiências com regressão de memória em outras obras sobre a reencarnação. Sua argumentação, entretanto, privilegia a comparação de dados biográficos, no que é rigoroso se assim podemos nos expressar.

O livro referido merece uma certa atenção, haja vista para as discussões que despertou quando de sua aparição no mercado, em especial por alguns detalhes curiosos: Luciano dos Anjos, sujet e personagem principal, é figura polêmica por suas preferências político-doutrinárias, em que se arrolam o discutível gosto pelo francês Roustaing (aquele do corpo fluídico de Jesus) e uma atuação extravagante no período em que esteve na Federação Espírita Brasileira. Estes fatos levantaram suspeitas sobre o livro, mas é preciso reconhecer a seriedade de Hermínio Miranda tanto na condução das pesquisas quanto na comprovação das informações obtidas durante os transes. Aliás, a polêmica surgiu antes mesmo da publicação do livro quando Luciano teria vetado a informação constante dos originais de que, em transe, se opunha à teoria roustainguista.

A seriedade de Miranda, nesta como em outras obras, é incontestável. Correndo o risco de ser contestado, avança ele na defesa de idéias próprias em alguns casos, inovando senão na originalidade do assunto pelo menos na utilização de novas designações para fatos conhecidos, como é o caso de seu “replay”, nome que atribui ao fenômeno observado por Ernesto Bozzano em “A Crise da Morte”, a respeito das lembranças que o indivíduo repassa no instante da desencarnação.

Seu pensamento é de que “o historiador ou historiógrafo não deve imaginar fatos inexistentes para preencher lacunas ou justificar a “sua” filosofia da História. Deve limitar-se a narrar os fatos, tal como se apresentam na documentação existente ou na melhor e mais verossímil tradição”.2

Ao lado de sua farta produção na linha da reencarnação, Miranda revela-se igualmente interessado nos fatos mediúnicos, privilegiado que foi pela convivência com alguns médiuns férteis em material de análise. Sua capacidade de registrar as informações obtidas por esta via, bem como de ampliá-las com pesquisas bibliográficas, permitiu-lhe escrever inúmeros livros, numa relação de que desponta a série Histórias que os Espíritos Contaram – nada menos de cinco volumes, três dos quais publiquei pela Correio Fraterno: A Dama da Noite, A Irmã do Vizir e O Exilado. Nestas obras surpreende o fato do autor trabalhar com a regressão de memória nos espíritos manifestantes.

Esta relação íntima com o plano invisível, que o autor diz ter durado algumas décadas em ambiente apartado do centro espírita, principiou por uma constatação: “Ao iniciar-se a tarefa, o conceito que eu formulava acerca dos espíritos era o dos livros que estudara durante o período de instrução e formação. Para mim, seriam entidades que, de certa forma, transcendiam a condição humana, quase como abstrações vivas, situadas numa dimensão que meus sentidos não alcançavam. Mas não era nada disso, os espíritos são gente como a gente! Sofrem, amam, riem e choram. Experimentam aflições, desalentos, alegrias, esperanças, tudo igual”.3

Também aqui, o material colhido por Miranda vai servir para as diversas outras obras que escreve, como é o caso, por exemplo, do livro Condomínio Espiritual, em que penetra com certa ousadia no terreno das ciências psicológicas, analisa a Síndrome da Personalidade Múltipla (SPM) e apresenta conclusões do tipo: “Se o leitor estiver a perguntar-se por que razão entra em cena a mediunidade nesta discussão, devo dizer-lhe que, a ser legítima a proposta de que são autônomas as personalidades que integram o quadro da chamada grande histeria (SPM), é de pressupor-se no paciente faculdades mediúnicas mais ou menos indisciplinadas, mas atuantes, que permitem não apenas o acoplamento de outras individualidades ao seu psiquismo, como manifestações de tais entidades através de seu sistema psicossomático” (pág. 26). Para deixar ainda mais claro o seu pensamento, Miranda afirma: “Pela minha ótica pessoal, a SPM não seria psicose nem neurose, mas faculdade mediúnica em exercício descontrolado” (pág. 252).

Ainda no plano das vidas sucessivas, Miranda acredita ser a reencarnação de um dos fiéis colaboradores de Martinho Lutero ao tempo da Reforma, tendo por esta personalidade uma inusitada admiração. Seus estudos sobre vidas anteriores incluem Lutero (este seria a reencarnação de Paulo). Isto talvez explique, entre outras coisas, o também grande interesse de Miranda pela teologia e, em especial, o Cristianismo, valendo destacar aí os dois volumes de As Marcas do Cristo e ainda Cristianismo: A Mensagem Esquecida.

Não se pode, portanto, deixar de mencionar neste ponto duas coisas: sendo afeito ao estudo da teologia, Miranda não se mostra um místico do tipo comum; apesar disso, é francamente partidário do aspecto religioso do Espiritismo, revelando-se aqui um dos poucos momentos de sua obra em que é contundente: “O Espiritismo está coerente com essa mensagem imortal, e, por isso, implantou-se tão solidamente sobre alicerce de três “pilotis”: ciência, filosofia e religião. Hoje, examinando os fatos do ponto de vista privilegiado da perspectiva, sabemos que o suporte religioso é o mais importante dos três”.4 Segue, portanto, a linha emanuelina, em que não se contenta apenas em apontar sua visão, mas destaca o que entende ser o aspecto primordial: o religioso. Eis que o confirma: “O Espiritismo (…) se resume, em última instância, em uma proposta clara e objetiva de esforço pessoal evolutivo para substituir religiões salvacionistas, dogmáticas e irracionais. Fé racionalizada, purificada e sustentada pela experimentação, continua sendo fé, mais do que nunca. Se isto não é religião, que seria, afinal?”.4

 Para finalizar, alguns aspectos curiosos em Hermínio Miranda

1. Ele não é um escritor que se poderia dizer popular. Conquanto em alguns instantes demonstre intenções nessa direção, sua linguagem o trai, seu estilo é denso e portador de uma seriedade do tipo que não se permite, leves que sejam, algumas pitadas de jocosidade. Às vezes tenta, mas não logra sucesso. Por isso, seria interessante analisar a razão da excelente vendagem de seus livros;

2. Miranda abusa das conceituações e dos esclarecimentos tendo por base os dicionários e enciclopédias. Tem-se a impressão de que escreve com o “Aurélio” e a “Britânica” ao lado, a eles recorrendo constantemente. Isso pode significar, por exemplo, uma tendência ao didatismo, ao mesmo tempo em que preocupação com o produto final da recepção do leitor;

3. Verifica-se, também nele, uma quase excessiva preocupação de convencer o leitor de que não deseja modificar sua opinião acerca de determinados aspectos especialmente ligados à crença. Ao analisar o conjunto de sua obra, este fato se destaca com certa nitidez, contrastando com a firmeza com que defende suas opiniões.

 Notas

1Abelardo Idalgo Magalhães em “De Kennedy ao Homem Artificial”.

2Reencarnação e Imortalidade, pág. 17.

3As Mil Faces da Realidade Espiritual, pág. 10.

4As Marcas do Cristo, vol I, Apresentação.

5As Mil Faces da Realidade Espiritual, pág. 271.

Bibliografia

Alquimia da Mente, 2ª ed., Lachâtre, 1994.

A Dama da Noite, Correio Fraterno, 1985.

A Irmã do Vizir, Correio Fraterno, 1985.

A Memória e o Tempo, 5ª ed., Lachâtre, 1996.

A Reencarnação na Bíblia, Pensamento, 1999.

As Marcas do Cristo, vol. I e II, 3ª ed., Feb, 1994.

As Mil Faces da Realidade Espiritual, 2ª ed., Edicel, 1994.

As Sete Vidas de Fénelon, Lachâtre, 1998.

Autismo, Lachâtre, 1998. Candeias na Noite Escura, 3ª ed., Feb, 1994.

Condomínio Espiritual, 3ª ed. Fé, 1995.

Cristianismo: A Mensagem Esquecida, 2ª ed. Clarim, 1998.

Eu Sou Camille Desmoulins, 3ª ed., Lachâtre, 1993.

De Kennedy ao Homem Artificial, 2ª ed., Feb, 1992.

Guerrilheiros da Intolerância, Lachâtre, 1997.

Histórias que os Espíritos Contaram, 4ª ed., Alvorada.

Lembranças do Futuro, Lachâtre, 1995.

Nas Fronteiras do Além, Feb, 1994.

O Exilado, Correio Fraterno, 1985.

O Que é Fenômeno Mediúnico, Correio Fraterno, 1986.

Reencarnação e Imortalidade, 4ª ed., Feb, 1991.

Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos, 3ª ed., Feb, 1990.

Swedenborg, uma Análise Crítica, Celd, 1991.
*Texto publicado originalmente na Revista da Cepa. Posteriormente, a pedido de Hermínio Miranda, foi incluído no seu livro “As duas faces da vida”.